Bastidores da cobertura oficial do congresso

Por Luana Copini (4º ano/Mackenzie)

Pelo segundo ano consecutivo a Cobertura Oficial do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo foi feita pelos jovens, estudantes e jornalistas, do Projeto Repórter do Futuro.

O resultado desta parceria pode ser acompanhado nas páginas deste blog. Matérias, fotografias e produtos audiovisuais, todo conteúdo produzido durante os 3 dias de congresso ficará disponível para eventuais consultas, análises e até mesmo pesquisas.

X Curso sobre Jornalismo e Conflitos Armados é lançado no 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Por Luana Copini (4º ano/Mackenzie)

Fotos: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista) e Luana Copini (4º ano/Mackenzie)

Sob o comando do jornalista João Paulo Charleaux (Últimas Instâncias) foi apresentado aos jornalistas e estudantes universitários, que participaram da palestra Medidas de proteção para jornalistas em cobertura de conflitos armados, neste último dia 30, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, o X Curso sobre Jornalismo e Conflitos Armados.

João Paulo Charleaux (Última Instância)

O curso não se restringe apenas aos estudantes paulistanos, mas sim aos universitários de todo o Brasil que querem ser jornalistas. Todos têm a oportunidade de participar do X Curso de Informação sobre Jornalismo em Conflitos Armados e outras Situações de Violência, que será ministrado de 20 de agosto a 29 de outubro, em São Paulo.

O curso é promovido pela CICV em parceria com a OBORÉ e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, e é realizado pelo Projeto Repórter do Futuro.

Seus principais objetivos consistem em conscientizar os participantes sobre temas do Direito Internacional Humanitário, além de abordar dispositivos legais necessários para analisar, interpretar, opinar e reportar as situações humanitárias resultantes de conflitos armados e situações de tensões internas.

Dentre os palestrantes estão militares, policiais, especialistas em direito internacional e jornalistas, todos apostando no aprendizado complementar sobre as normas internacionais aplicáveis em situações de conflito armado e outras situações de violência, além de situar o trabalho da imprensa nestes contextos.

Clique aqui para baixar o Cartaz Original

Ao todo, são 20 vagas oferecidas exclusivamente a estudantes universitários que tenham interesse nessa área do jornalismo. Os interessados em participar da seleção devem preencher uma ficha de pré-inscrição, disponível de 1º a 15 de agosto na página da OBORÉ: www.obore.com

A seleção será realizada no dia 20 de agosto, durante um encontro de confraternização com a presença do chefe da delegação regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Felipe Donoso.

Programação

20 de agosto – sábado – 9 horas
Encontro de confraternização e seleção de candidatos.
Apresentação de Felipe Donoso, chefe da delegação do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

3 de setembro – sábado – 8h30
Oficial do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx)

10 de setembro – sábado – 8h30
Coronel André Vianna, da reserva da Polícia Militar de São Paulo

17 de setembro – sábado – 8h30
Gabriel Valladares, assessor jurídico do CICV

24 de setembro – sábado – 8h30
Samy Adghirni, jornalista da Folha de S. Paulo e especialista em assuntos do Oriente Médio e política externa

29 de outubro – sábado – 9 horas
Avaliação do curso, entrega de certificados e Reembolsas

A palestra Medidas de proteção para jornalistas em cobertura de conflitos armados foi realizada das 9:00h às 12:30h de 30 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Os palestrantes foram: João Paulo Charleaux  (e-mail: jpcharleaux@gmail.com),  Andrei Netto  (e-mail: andrei.netto@grupoestado.com.br –download da apresentação) , Sandra Lefcovich(e-mail slefcovich@icrc.org – download da apresentação) e Rodney Pinder (e-mail: pinder.rodney@newssafety.org)


Direito Internacional Humanitário age em favor dos jornalistas em zonas de guerra

Por Maria Clara Lima (4º ano/UNESP)

Foto: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista)

Sandra Lefcovich, representante da CICV no Brasil.

“O mais seguro é não partir” diz Sandra Lefcovich, representante do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil, em palestra no 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

O jornalista que está, ou irá, a regiões de conflito precisa ter acesso a medidas de proteção. Conhecer seus direitos e deveres, além de saber como agir nestas situações de conflito armado, são atitudes essenciais até mesmo para a própria sobrevivência, comenta Lefcovich.

A palestrante lembra que ao se descolar para uma zona de conflito, o jornalista ou freelance deve se preparar para enfrentar os perigos de um conflito. Cursos de primeiros-socorros, equipamentos especiais e noções do Direito Internacional Humanitário podem assegurar que o repórter não seja ferido – ou até morto – em uma guerra. “Ninguém deve viajar sem seguro de vida, por exemplo”. Outras medidas são essenciais, como por exemplo, não contar com cartões em hipótese alguma; ter sempre alguns dólares na carteira; alugar telefone por satélite; comprar créditos suficientes para o uso intensivo de celular; ter o telefone de ONG, órgãos oficiais e fontes; e manter contato constante com os editores.

Como funciona o Direito Internacional Humanitário

O Direito Internacional Humanitário (DIH) é parte do Direito Internacional e dos Direitos Humanos.  A Cruz Vermelha Internacional é responsável pela manutenção do DIH e aplicação dos Direitos em zonas de conflito. Por ser uma organização filantrópica, o CICV procura restringir a participação majoritária das Nações para que o órgão não se sinta coagido a atender certas necessidades. Hoje em dia, em casos de conflitos, a Cruz Vermelha Internacional mantém o respaldo da comunidade internacional, enquanto a ONU perde a credibilidade com o tempo.

Para contar com o DIH, o jornalista deve estar fora da proteção dos militares. Sandra Lecovich lembra que o trabalho da CICV é para civis, e por isso, quem estiver cobrindo conflitos na condição de jornalista incorporado as forças armadas não será atendido pelo Comitê.  O DIH serve como interlocutor da paz, e estabelece o diálogo entre as partes beligerantes, no intuito de assistir as vítimas dos conflitos.

A assimilação cultural e a mudança do texto em relação a alguns assuntos é uma constante para o CICV, garantindo assim a interculturalidade. Para assegurar o dialogo, a Cruz Vermelha age também como Crescente Vermelho – nas Nações islâmicas. A mudança do emblema garante a identificação entre o Orgão e o povo.

A palestra Medidas de proteção para jornalistas em cobertura de conflitos armados foi realizada das 9:00h às 12:30h de 30 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Os palestrantes foram: João Paulo Charleaux  (e-mail: jpcharleaux@gmail.com),  Andrei Netto  (e-mail: andrei.netto@grupoestado.com.br –download da apresentação) , Sandra Lefcovich(e-mail slefcovich@icrc.org – download da apresentação) e Rodney Pinder (e-mail: pinder.rodney@newssafety.org)

Brasil ainda está longe de garantir o acesso à informação pública

Da Redação

Foto: Luana Copini (4º ano/ Mackenzie)

Mesmo com a eventual aprovação do projeto da lei nacional de Acesso à Informação Pública e com as diversas leis que aumentaram a transparência das operações governamentais do país, o Estado brasileiro ainda está longe de garantir aos veículos de comunicação o direito à informação pública.

É o que mostra os dados do Mapa de Acesso 2011, pesquisa da Abraji conduzida por Ivana Moreira, diretora da associação e chefe de redação da Band News FM de Belo Horizonte.

Ivana Moreira (BandNews FM/Abraji)

A pesquisa foi apresentada durante a palestra “Lei de Acesso a Informações Públicas no Brasil – Mapa do Acesso”. O pesquisador da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) Guilherme Canela e o jornalista Fernando Oliveira Paulino, da Universidade de Brasília, também participaram do debate, que fez parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji.

Realizado desde 2006, o Mapa de Acesso consiste em um trabalho de apuração em que jornalistas ligados à Abraji pedem certas informações públicas a órgãos dos três Poderes e, faz o levantamento de quantos são realmente transparentes.

Neste ano, o estudo tentou verificar o grau de transparência de Estados em relação às informações da segurança pública. Foram solicitadas três informações, divididas ano a ano e referentes ao período entre 2007 e 2010: o orçamento executado por unidade prisional,o número de detentos por unidade prisional e o gasto por detento.

Dos 27 governos consultados, apenas 14 responderam às questões, ainda que fossem incompletas. Os outros 13 não deram retorno. Entre aqueles que repassaram as informações, nota-se um aumento da transparência, sobretudo no Sudeste, diz Moreira. “Existe hoje nos governos do sudeste uma preocupação maior do que em estados onde o trabalho da mídia é menos intenso”.

Lei de Acesso

Outro ponto discutir o durante a palestra foi o projeto de lei que regulamentará o acesso à informação pública, que está tramitando no Senado Federal. Mas a provável aprovação do instrumento, diz Canela, não garante a transparência das instituições. “Se aprovar está sendo difícil, implantar já é outra batalha”.

O maior obstáculo para isso, segundo ele, é a resistência por parte dos servidores públicos. “Os funcionários pensam que estam ajudando o governo quando não repassam as informações”. Ele também deu exemplos de experiências mau sucedidas, como na África do Sul, em que a legislação é avançada, “mas não teve órgão independente para fiscalizar”.

A falta de um órgão competente também foi mencionada por Moreira. “Não que ela [a lei] não vá ser implantada aqui por causa disso, mas é um risco. Nos Estados Unidos, por exemplo, funcionou razoavelmente bem, mas teve falhas, reconhecidas pelo governo Obama”, diz.

A palestra “Lei de Acesso a Informações Públicas no Brasil – Mapa de Acesso 2011” foi realizada das 11h às 12h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br).

Palestrante(s): Guilherme Canela (UNESCO),  Fernando Oliveira Paulino (UnB/Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas) Ivana Moreira (BandNews FM/Abraji) Download das apresentações: Apresentação 01, Apresentação 02, Apresentação 03

Difícil relação entre imprensa e governo compromete qualidade da informação na Argentina

Por Maria Clara Lima (4º ano / Unesp)

Foto: Lina Ibañez (publicitária)

Falta de credibilidade gera crise nos meios de comunicação do país

Gabriel Michi (Fopea/Argentina)

“A desconfiança é generalizada”, relata Gabriel Michi, do Fórum de Jornalismo Argentino. Segundo ele, os argentinos estão saturados da militância política nos meios de comunicação e os jornais não confiam nas fontes governamentais. “É um ciclo. O governo não confia nos jornais, os jornalistas estão submetidos as agendas dos veículos e a população à falta de credibilidade de seus periódicos”. Gabriel Michi lembra a crise no jornalismo argentino é um reflexo da história recente do país.

Na década de 1990, o presidente Carlos Menem assumiu uma relação de troca com os meios de comunicação, quando lhes eram favoráveis, concedia favores aos veículos argentinos. O presidente do Partido Peronista tinha como missão resgatar a Argentina da profunda crise economia que assolava o país. No final de seu mandato, em 1999, os jornais iniciaram uma cruzada para que ele não se reelegesse, tendo em vista a situação insustentável que culminou na moratória da dívida externa do país. Durante a “Era Kirchner”, que começou em 2003 com a eleição de Néstor Kirchner, e continua com o mandato de Cristina Kirchner, o relacionamento da imprensa com o governo tornou-se insustentável, e para defender suas receitas, os veículos de comunicação passaram a se submeter cada vez mais a publicidade. De 2003 até 2010, as propagandas de empresas privadas aumentaram de 887 mil para mais de três milhões de dólares. Além disso, a publicidade do governo também cresceu, e passou de 15 mil para cerca de 150 mil dólares. “Se não há propaganda, seja ela oficial ou privada, não há jornal”, explica Hennmann, jornalista brasileiro e ex-correspondente da Folha de S.Paulo na Argentina.

Para piorar a situação, os jornais passaram a depender da agenda política da presidente e do jogo de poder entre o governo e a imprensa. Um exemplo disso é a relação conflituosa com o Grupo Clarín, que deliberadamente desaprova o Governo Kirchner.

Crise econômica e ética

A crise financeira argentina que começou no início dos anos 90 e se agravou em 2001, reduziu o poder de compra da população em torno de 50%. Por isso, a venda de periódicos no país caiu drasticamente, fazendo com que os jornais dependessem cada vez mais do dinheiro obtido pela venda de espaço publicitário.

Apesar da visível recuperação econômica do país, desde 2006 as oscilações no consumo de produtos jornalísticos mostram o reflexo da crise de confiança entre os meios e a população. “Apesar de a economia estar se recuperando, não há sinal de que os periódicos voltarão ao mesmo índice de vendas”, explica Michi. Nos últimos 10 anos, o jornalismo político na argentina vem sendo prejudicado pela relação conturbada entre jornais e órgãos oficiais.

O jornalista Gabriel Michi explica que a dependência econômica dos meios de comunicação às empresas, resultou na falta de credibilidade da imprensa que se tornou cada vez menos imparcial.  A opinião e militância saturaram as publicações e canais que agora enfrentam uma crise com a redução de sua audiência. O partidarismo dos meios de comunicação é excessivo naquele país, e os leitores chegam a classificar a imprensa como “militante”. Segundo ele, a exaltação de alguns jornais chega ao antiprofissionalismo, e o que se vê são denúncias e defesas, onde os interesses públicos acabam ficando em segundo plano. “Enquanto os indícios viram provas nas mãos de alguns repórteres, irregularidades passam despercebidas por outros. Esse tipo de cobertura prejudica a qualidade da informação, ninguém confia em ninguém”, desabafa.

Imprensa argentina tem visão parcial do Brasil 

O jornalista brasileiro Gustavo Hennmann, ex-correspondente da Folha na Argentina, descobriu logo que chegou ao país que não podia contar com as fontes oficiais para fazer seu trabalho. “A maioria dos jornalistas nem tenta mais contato com o Governo. Ficou impossível trabalhar com eles”. Hennmann falou da cobertura feita na Argentina sobre o Brasil. Para ele, a imparcialidade também faz parte da agenda do jornalismo internacional praticado no país. “Eles usam o Brasil como grande exemplo de sucesso, algo que eles deveriam ser. Exaltam a política brasileira e pecam na checagem”. Segundo o jornalista, a maioria dos jornais não podem financiar profissionais para trabalhar no Brasil, e a cobertura é feita quase que somente pela assessoria do governo brasileiro. “Desse jeito, fica difícil fazer uma apuração analítica e profunda”.

A palestra “Desafios da cobertura política na era Kirchner foi realizada das 14h às 12h30 de 1 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrante:  Gabriel Michi (Fopea/Argentina) foi mediado pelo jornalista Gustavo Hennemann (Folha de S.Paulo) 

Jornalismo Investigativo – e o que acontece agora?

Por Eduardo Nascimento (3 ano / ECA-USP) , Jéssica Mota (2º ano/ Mackenzie), Maria Clara Lima (4º ano / Unesp) e Marta Santos (2º ano /PUC – SP)

Foto: Lina Ibañez (publicitária)

Fernando Rodrigues, Rosental Alves, Joshua Benton, David Donald, Bill Allison e Brant Houston

Depois de três dias intensos, em que 125 palestrantes discursaram em 69 cursos e paineis, o 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo terminou com uma mesa em que estavam grandes nomes do jornalismo nacional e internacional, debatendo quais serão os rumos do jornalismo investigativo na era digital. O problema atual é que a receita vinda da internet ainda não é suficiente para bancar grandes investigações e o modelo que se estabeleceu nos jornalismo on-line é de textos curtos e pontuais.

Mesmo assim Rosental Calmon Alves, homenageado do evento, apresentou uma visão otimista sobre o assunto. Para ele “nunca foi melhor ser jornalista do que agora”, pois o mundo de ferramentas trazido pela internet possibilita inúmeras novas formas de jornalismo. Alves foi acompanhado de Joshua Benton (Nieman Lab), David Donald (The Center for Public Integrity), Brant Houston (Global Investigative Journalism Network), Bill Allison (Sunlight Foundation) e Fernando Rodrigues (Abraji).

Benton, que dirige o Nieman Journalism Lab de Harvard, concorda com Alves e afirma que jornalismo investigativo não é só para os repórteres mais experientes. Para ele, investigação pode ser feita em qualquer gênero de reportagem: “você pode ter parágrafos investigativos, frases investigativas dentro do texto”.

David Donald, especializado em banco de dados, crê que a chave para ser bem sucedido no mundo digital está em chamar a atenção no meio da névoa cibernética de informação. “Para o jornalismo investigativo quebrar essa barreira, ele tem que conseguir ser lido”. Por isso, Donald acredita que editores nunca foram tão necessários, para sugerir quais plataformas midiáticas podem ser usadas como o conteúdo conseguidos pelos repórteres.

Ele também afirma que o jornalista do futuro precisa saber lidar com uma gama variada de dados para investigação. Bill Allison ressalta o papel do jornalista nesse sentido – como hoje o custo para obter informações é muito baixo, o jornalista não precisa ir longe para conseguir, mas “ainda é preciso ter um jornalista para fazer boas perguntas”.

As fundações e as escolas

Um dos meios que o jornalismo investigativo encontrou para se bancar nesse começo de era é utilizando dinheiro de fundações – como acontece com a “ProPublica.com”, o “Knight Center for Journalism” e, aqui no Brasil, a “aPublica.org”. No entanto, nesse modelo todos os recursos vêm de poucas fontes, certas vezes de fonte única, o que o deixa muito frágil e dependente. Alves o defende mesmo assim, mas apenas como pontapé inicial para essas iniciativas: “dinheiro de fundação é dinheiro fundacional do projeto”, afirma.

Donald dá como exemplo de alternativa uma iniciativa do “Center for Public Integrity”, de oferecer assinaturas que garantam um conteúdo ou aplicativos extra, a exemplo do “pay wall” do New York Times. Já Benton acredita que um financiamento baseado majoritariamente em leitores não é viável, mas também nunca foi a fonte principal dos jornais estadunidenses, “nos EUA as pessoas não estão acostumadas a pagar por jornalismo”. Para Benton uma consequência inevitável da internet é que as “redações terão que diminuir”.

A mesa também foi unânime em afirmar que os cursos de jornalismo precisam se aprimorar. Para Houston, as escolas jornalísticas devem otimizar técnicas e habilidades. “O importante é dar aos estudantes lugar para trabalhar em suas matérias”, afirmou. Alves vê a criação de produtos jornalísticos para as comunidades universitárias como um grande viés para aprendizagem. Para ele, é importante dar espaço para o estudante criar. “Pratique, não teorize tanto”, sentencia o jornalista.

O professor como guia e aprendiz

A discussão entre teoria e prática nas escolas de jornalismo ultrapassou a mesa de debate. No final da palestra, Rosental Calmon Alves, avisou “ninguém está preparado para mudanças, mas o bonito desse processo é que dá para aprender juntos”. O jornalista homenageado no Congresso acredita que os professores de jornalismo precisam aprender a entrar em sinergia com a tecnologia e os alunos. “Não precisa ter medo de aprender, muito menos de ensinar”, diz. Ele lembra, ainda,  que o professor precisa reconhecer suas limitações e aprender com os alunos, sendo um guia e facilitador do processo de aprendizagem, e não apenas um ditador de verdades.

Bill Allison, da Sunlight Foundation, foi mais além, e comparou o jornalismo atual ao “new journalism” – jornalismo literário- incorporado as grandes redações nos anos de 1960. Para ele, por causa da efervescência daquela época, houve a necessidade de uma nova linguagem no jornalismo, resultando em uma reconfiguração das reportagens e até da apuração. “Imagino que se aquelas pessoas tivessem os recursos que temos hoje, o que elas teriam inventado?”, indagou ao constatar que o avanço tecnológico é uma ferramenta poderosa para o jornalista de hoje. Ele pede para que os estudantes de jornalismo sejam empreendedores e agarrem a oportunidade de se fazer algo novo. “Não existe isso de que os jornais vão acabar, e que não poderemos mais fazer reportagens investigativas”, para ele, é preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre o jornalismo de qualidade e a era digital. É apenas uma questão de adaptação.

Rosental Calmon Alves explica como o ensino do jornalismo deve ser no contexto atual.

Rosental Calmon Alves fala da nova postura que o professor de comunicação deve adotar.

O encerramento do Congresso aconteceu no dia 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). A mesa foi moderada pelo jornalista Fernando Rodrigues. Os palestrantes foram Rosental Alves, Joshua Benton, David Donald, Bill Allison e  Brant Houston.

“É preciso trocar informação”

Por Camila Moura

O que você, estudante de jornalismo ou foca, acharia se pudesse ter acesso ao making off das grandes reportagens, vencedoras dos principais prêmios de jornalismo do país? Todos os segredos e dificuldades seriam desvendados. Essa é a ideia de um projeto que nasceu há 5 anos, e foi retomado nos bastidores do 6º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji por Sergio Gomes (OBORÉ) e Angelina Nunes (editora assistente da editoria Rio do O Globo e coordenadora o grupo de Administração Pública).

 

A ideia principal é fazer com que o regulamento dos concursos que premiam reportagens tenham uma cláusula que obrigue os vencedores a descrever em detalhes todo o processo de realização, desde a origem da pauta, as dificuldades e fontes de pesquisa, até chegar ao resultado final. Assim, grandes profissionais estarão contribuindo para a formação do jovem jornalista, uma vez que esse material ficará disponível às universidades.
Registramos o encontro de Sérgio Gomes e Angelina Nunes. Assista ao vídeo e confira:

Investigação criminal e os avanços tecnológicos na área

Por Aline Santana (4º ano/Mackenzie)

Foto: Luana Copini (4º ano/Mackenzie)

Em formato inusitado, com um dos participantes via Skype, aconteceu no sábado (3) a palestra “DNA: o avanço das investigações policiais”, com a participação de Joe Blozis, ex-chefe do CSI (Crime Scene Investigation) da Polícia de Nova York, Hélio Buchmüller, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais e Steve Weinberg, diretor-executivo da Investigative Reporters and Editors (IRE). Eles discutiram o uso de tecnologias cada vez mais sofisticadas na investigação.

Joe Blozis (CSI Polícia de Nova York)

Blozis explicou como funciona o trabalho da polícia novaiorquina e, muito bem humorado, chegou a dizer que era bem diferente do que assistimos nos seriados de televisão, “As ferramentas de investigação não estão tão avançadas assim”.

Um dos pontos principais apontados pelo policial que comandou o CSI de Nova York durante 13 anos foi quando falou da investigação criminal baseada nos traços de DNA do local do crime. Também mostrou a importância de um banco de dados e como este é um caminho para se precisar como se deu o crime, evitando assim que inocentes paguem por atos que não cometeram.

E utilizando-se da tecnologia para enriquecer a discussão, por meio do Skype Weinberg comentou sobre os avanços e o uso da tecnologia da apuração e investigação jornalística em seu país.

Buchmüller expôs o projeto brasileiro de banco de DNA, que funcionaria com a esfera estadual em parceria com a Polícia Federal. Buchmüller frisou que as tecnologias em investigações criminais andam a passos lentos no Brasil. A palestra seguiu à discussão sobre a disponibilização do banco de DNA para investigações criminais e qual o papel da imprensa para divulgar a causa no Brasil, na medida em que ajudaria a Justiça a obter provas mais contundentes sobre determinado crime e, principalmente, sobre os culpados.

A palestraDNA: o avanço das investigações policiais” foi realizada das 11h às 12h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrante(s): Hélio Buchmüller (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais)Joe Blozis (CSI Polícia de Nova York) Steve Weinberg (diretor-executivo da Investigative Reporters and Editors)

Especialista denuncia mau uso do dinheiro público para a Copa e Olimpíada

Por Géssica Brandino (jornalista)

Foto: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista)

Lucro para as empreiteiras e prejuízo para a população. É esse o cenário previsto pelo professor da Universidade Federal Fluminense e geógrafo, Chris Gaffney, para a Copa de 2014 e para a Olimpíada de 2016. Há dois anos ele estuda os impactos das obras e os benefícios gerados no cenário urbano e social.

Para Gaffney, a falta de planejamento e adequação dos projetos ao plano diretor das cidades pode gerar o mau uso do dinheiro público. Segundo ele, o fluxo de turistas e o estímulo ao consumo não deveriam ser os focos dos projetos das obras, como têm ocorrido. “Reestruturar uma cidade pelo turismo, como fez Atenas em 2004, não está certo. O turismo no Brasil não move muita coisa, porque só recebe seis milhões de pessoas por ano”.

Chris Gaffney (UFF)

Ele criticou as mudanças que estão projetadas no Rio de Janeiro na área de transporte. Segundo o geógrafo, o projeto está priorizando a zona sul, onde a demanda de transporte é menor. Em compensação, o alto número de passageiros de Niterói e da zona norte não está sendo considerado.

A mesma falta de lógica, de acordo com ele, está presente nos projetos dos novos estádios. “A arquitetura exuberante está sendo valorizada, em compensação, estão deixando de lado a interação com o público, prevendo espaços maiores para áreas vips, diminuindo a capacidade dos estádios”, disse.  Ele questiona o argumento de que tais empreendimentos trarão desenvolvimento e novos investimentos para as cidades, uma vez que os estádios não funcionam diariamente.

“Estamos com uma previsão de oito bilhões de reais, sendo cinco bilhões de investimentos públicos em estádios, e sabemos, de antemão, que quatro deles serão elefantes brancos: Natal, Manaus, Cuiabá e Brasília, onde não há times de futebol nem na terceira divisão”, frisou Gaffney. Para garantir a manutenção desses estádios, será necessário, segundo o especialista, um investimento anual de no mínimo seis milhões de dólares.

O Maracanã foi citado como exemplo do mau uso do dinheiro público. Em 1999, foram investidos 60 milhões de reais para colocação de cadeiras para o mundial da Fifa. Para as obras do Pan, foram gastos R$320 milhões para uma nova adequação e, quatro anos depois, tudo o que foi feito foi demolido para a Copa do Mundo. “Vamos chegar a quase dois bilhões de reais investidos no estádio do Maracanã nos últimos dez anos. Em compensação a capacidade do estádio será reduzida de 180 mil para 75 mil pessoas”, destacou.  O dinheiro poderia ser melhor gasto, por exemplo, se investido no esporte de base e melhoria da estrutura das escolas. Apenas 15% das escolas fluminenses têm áreas de lazer.

“A cidade constrói o estádio e tem que entregar para a Fifa durante o mês da Copa. Na África do Sul, durante a Copa, a dívida chegou a 6 bilhões de dólares enquanto que no mesmo período o lucro da Fifa chegou a 4 bilhões de dólares. É uma transferência de dinheiro público para os cofres da Fifa”, finalizou.

O geógrafo fez uma denúncia. Falou do impacto negativo para a administração pública das cidades com a renúncia fiscal gerada pela construção da hotéis no padrão cinco estrelas:  “O que vai acontecer com esses hotéis, que não tem que pagar IPTU até 2022 e são financiados pelo BNDES no Brasil inteiro?”.

O pesquisador destacou a importância de se identificar a geografia de interesses existentes por trás das grandes obras, seja por motivos políticos como econômicos, para que os profissionais da imprensa não se tornem meros reprodutores das declarações da FIFA e da COI. Para completar, citou uma lista com as empresas mais beneficiadas com as obras da Copa e da Olimpíada: Odebrecht, OAS, Carioca, Carvalho Hosken, Delta e empresas internacionais de aço, concreto, engenharia. “Temos que saber quais são os interesses econômicos, políticos, qual a geografia desses interesses”.

A palestra “Impactos urbanísticos das obras para Copa e Olimpíada no Brasil”  foi realizada das 9h às 10h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrante: Chris Gaffney (UFF) geostadia@gmail.com. Moderador: José Roberto de Toledo (O Estado de S. Paulo/Rede TV/Abraji). Clique para download da apresentação.

Jornal impresso é a vela, Internet é a lâmpada

Eduardo Nascimento (3º ano / ECA-USP)

 

Fotos: Lina Ibañez (publicitária)

Quando questionado sobre o papel do jornalismo impresso na atualidade, Luciano Suassuna, diretor de jornalismo do portal IG, responde com um dito que atribui a um amigo, chefe de redação em jornal impresso: “Às vezes eu tenho a sensação que a gente está numa fábrica de vela, fazendo a melhor vela possível, só que está chegando a energia elétrica”.

Márcia Menezes (G1)

Suassuna afirma que o tema da palestra – “Em tempo real: o desafio de garantir a qualidade da informação na velocidade da internet” – é pergunta de quem trabalha em jornal e tem preconceito com internet. Isso porque, para ele, o impresso não tem mais razões de existir, se não para catalizar recursos e satisfazer desejos excêntricos de leitores – o que, no futuro, considera o seu único meio de sobrevivência. “Tem gente que usa rapé até hoje, não?”, compara Suassuna.

O diretor do IG afirma que “agilidade é qualidade”, e a verdadeira questão é como garantir a qualidade no papel em tempo da velocidade na internet. “Porque o problema de qualidade hoje é do impresso, não é do on-line”.

Márcia Menezes, editora-chefe do portal G1, também foi palestrante e concorda com Suassuna, pois a conclusão a que seu portal chegou, com base em pesquisa de conteúdo acessado, é que “ninguém quer ver notícia, elas querem ver coisas que estão acontecendo”.

Luciano Suassuna (iG)

Márcia crê que o desafio da internet é produzir conteúdo com uma menor quantidade de filtros. Ela afirma que repórter de internet é sempre um “repórter-editor”, que posta seus próprios textos, faz seus próprios vídeos e fotos, sendo necessária, portanto, uma formação muito mais completa. Suassuna concorda nesse ponto, e crê que hoje é necessário um novo jornalista. “O jornal tem muito mais estrutura para correção, a internet precisa de profissionais melhores.”

Sobre o “agilidade é qualidade”, Suassuna usa como exemplo a capa dos jornais no dia 11 de março deste ano, quando aconteceu, durante a madrugada do Brasil, um tsunami no Japão. Como todos os jornais já tinham fechado suas edições, as capas variavam entre diversos outros assuntos – todos menos relevantes, naquele momento, do que a tragédia japonesa.

O problema do impresso é que na hora que ele chega para você, ele não é mais útil, enquanto na internet, o tempo inteiro você tem a notícia que as pessoas querem ler”, diz Suassuna. O jornalista se orgulha do sucesso, na internet, de notícias como a do eclipse lunar do dia 15 de junho – alcançando picos de milhares de visualizações por minuto, e sendo esquecidas depois de seis horas.

Os erros

Em relação aos erros de escrita tão comuns na internet, Suassuna crê que os textos impressos hoje têm mais qualidade que os digitais porque os melhores profissionais ainda estão nos jornais impressos. Márcia crê que proporcionalmente a quantidade de erros é a mesma – há mais erros no on-line porque o volume de notícias publicadas é bem maior, e “o repórter que digita errado na internet também digita errado no impresso”.

A palestra Em tempo real: o desafio de garantir a qualidade da informação na velocidade da internet  foi realizada das 14h às 15h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrantes: Luciano Suassuna (iG) e Márcia Menezes (G1)