Veículos são criticados pela má cobertura sobre as preparações para a Copa de 2014

Da Redação

Foto: Vinicius Gorczeski (4° ano/ Metodista)

A três anos da abertura da Copa do Mundo no Brasil, já é consenso de que as obras de estádios e infraestrutura do país estão muito atrasadas e que, ao contrário do prometido, o poder público está entrando com investimentos milionários em forma de isenção de impostos.

Com a pressa para entregar os estádios e aeroportos a tempo para o evento, abre-se uma brecha para a corrupção que repete o que foi visto no Pan-Americano realizado no Rio de janeiro em 2007, avaliam os jornalistas esportivos Mauro Cezar Pereira, da ESPN, e José Cruz, do UOL. Ambos participaram da palestra “Como investigar obras para a Copa do Mundo 2014”, durante o 6º Congresso Internacional da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Para os dois palestrantes, existe uma conivência entre os veículos de comunicação ao falar sobre a seleção brasileira e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Pereira mencionou um episódio ocorrido em março deste ano, quando a Fifa (órgão mundial do esporte) criticou a organização da Copa de 2014 pelo atraso no cronograma.

“No dia seguinte, enquanto a Folha [de S. Paulo] deu uma matéria falando dos atrasos, a Globo deu na manchete: ‘Calma Fifa’. É assustador”, diz o jornalista da ESPN.

José Cruz, Mauro Cezar Pereira e Plínio Bortolotti

A abordagem ufanista também acaba omitindo o real significado dos altos valores das obras. Pereira comparou o custo das obras do Maracanã e do “Itaquerão” (provável nome do eventual estádio do Corinthians), que estão previstos em R$ 1 bilhão cada,segundo as contas atuais, e a nova arena do Palmeiras, que está orçada em R$ 300 milhões, de acordo com a WTorre, construtora do estádio.

“É claro que tem uma coisa errada, mas se o jornal fala o valor de 1 bilhão sem comparar, o cara vê  e pensa:  ‘Ah, deve custar isso mesmo´. As pessoas não se escandalizam mais com as cifras da Copa do Mundo. E não é assim”, afirma.

Cruz mencionou o exemplo do Panamericano de 2007, realizado no Rio de Janeiro, para explicar que, mesmo que os gastos não estivessem superfaturados, não haverá legado social para as cidades que ganharão um novo estádio, ou mesmo para a capital fluminense que abrigará as Olimpíadas em 2016. “Não teve legado social do Pan para a cidade [do Rio de Janeiro]”.  Segundo o jornalista, relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) afirmam que os jogos de 2007 custaram R$ 3,5 bilhões.

Além do custo total, Cruz mencionou uma série de irregularidades apontadas pelo TCU nos gastos do evento. “O relatório do TCU apontou que compramos 5.000 tochas, mas recebemos apenas 500. E também superfaturaram em tecnologia da informação. Faltando um mês, a Polícia Federal disse que as instalações compradas não eram adequadas”. Isso causou uma compra às vésperas do evento, conclui, que gerou um superfaturamento de 16.000%.“Nós estamos vendo isso se repetir e precisamos ficar atentos”.

As empreiteiras, os dirigentes do futebol e os políticos são os principais responsáveis pelo atraso das obras, dizem os dois jornalistas. “Quem são os principais financiadores de eleição? São as empreiteiras. A nossa política é dependente de pessoas que têm interesse que as coisas continuem assim”.

Governo federal

Desde a chegada de Lula ao Planalto, dizem os palestrantes, Ricardo Teixeira voltou a ter um poder que ele havia perdido no segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso. “No governo FHC e a CPI da CBF, Ricardo Teixeira nem ia à Brasília. Mas, o Agnello [Queiroz, que assumiu o recém-criado Ministério do Esporte entre 2003 e 2006] quis se aproximar do futebol”, explica Cruz.

O jornalista do UOL afirma que o objetivo de Lula na época era usar a seleção brasileira para pavimentar o seu caminho político internacional. “Assim, eles colocaram o Brasil na agenda das competições internacionais”.

Oito anos depois, Ricardo Teixeira ganhou um poder no país que nenhum político tem, avalia Pereira, tornando governadores, deputados e presidentes submissos ao presidente da CBF.

“Até o Geraldo Alckmin pretendia ir até o CT do Corinthians quando a seleção treinava lá para conversar com o Ricardo Teixeira, que não estava lá. Não satisfeito, o governador de São Paulo foi até o Rio de Janeiro para tirar uma foto patética ao lado do presidente da CBF”, diz Pereira.

A palestra Como investigar obras para a Copa do Mundo 2014 foi realizada das 9h às 11h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji(www.abraji.org.br). Palestrantes: José Cruz (UOL), Mauro Cezar Pereira (ESPN) (download da apresentação). Moderador: Plínio Bortolotti (O Povo/Abraji)

Publicado em 4 de julho de 2011, em Cobertura esportiva e marcado como , , , . Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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