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Jornal impresso é a vela, Internet é a lâmpada

Eduardo Nascimento (3º ano / ECA-USP)

 

Fotos: Lina Ibañez (publicitária)

Quando questionado sobre o papel do jornalismo impresso na atualidade, Luciano Suassuna, diretor de jornalismo do portal IG, responde com um dito que atribui a um amigo, chefe de redação em jornal impresso: “Às vezes eu tenho a sensação que a gente está numa fábrica de vela, fazendo a melhor vela possível, só que está chegando a energia elétrica”.

Márcia Menezes (G1)

Suassuna afirma que o tema da palestra – “Em tempo real: o desafio de garantir a qualidade da informação na velocidade da internet” – é pergunta de quem trabalha em jornal e tem preconceito com internet. Isso porque, para ele, o impresso não tem mais razões de existir, se não para catalizar recursos e satisfazer desejos excêntricos de leitores – o que, no futuro, considera o seu único meio de sobrevivência. “Tem gente que usa rapé até hoje, não?”, compara Suassuna.

O diretor do IG afirma que “agilidade é qualidade”, e a verdadeira questão é como garantir a qualidade no papel em tempo da velocidade na internet. “Porque o problema de qualidade hoje é do impresso, não é do on-line”.

Márcia Menezes, editora-chefe do portal G1, também foi palestrante e concorda com Suassuna, pois a conclusão a que seu portal chegou, com base em pesquisa de conteúdo acessado, é que “ninguém quer ver notícia, elas querem ver coisas que estão acontecendo”.

Luciano Suassuna (iG)

Márcia crê que o desafio da internet é produzir conteúdo com uma menor quantidade de filtros. Ela afirma que repórter de internet é sempre um “repórter-editor”, que posta seus próprios textos, faz seus próprios vídeos e fotos, sendo necessária, portanto, uma formação muito mais completa. Suassuna concorda nesse ponto, e crê que hoje é necessário um novo jornalista. “O jornal tem muito mais estrutura para correção, a internet precisa de profissionais melhores.”

Sobre o “agilidade é qualidade”, Suassuna usa como exemplo a capa dos jornais no dia 11 de março deste ano, quando aconteceu, durante a madrugada do Brasil, um tsunami no Japão. Como todos os jornais já tinham fechado suas edições, as capas variavam entre diversos outros assuntos – todos menos relevantes, naquele momento, do que a tragédia japonesa.

O problema do impresso é que na hora que ele chega para você, ele não é mais útil, enquanto na internet, o tempo inteiro você tem a notícia que as pessoas querem ler”, diz Suassuna. O jornalista se orgulha do sucesso, na internet, de notícias como a do eclipse lunar do dia 15 de junho – alcançando picos de milhares de visualizações por minuto, e sendo esquecidas depois de seis horas.

Os erros

Em relação aos erros de escrita tão comuns na internet, Suassuna crê que os textos impressos hoje têm mais qualidade que os digitais porque os melhores profissionais ainda estão nos jornais impressos. Márcia crê que proporcionalmente a quantidade de erros é a mesma – há mais erros no on-line porque o volume de notícias publicadas é bem maior, e “o repórter que digita errado na internet também digita errado no impresso”.

A palestra Em tempo real: o desafio de garantir a qualidade da informação na velocidade da internet  foi realizada das 14h às 15h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrantes: Luciano Suassuna (iG) e Márcia Menezes (G1)

Jornalismo independente: uma alternativa que começa a dar certo

Por: Juliana Conte (jornalista)

Foto: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista)

Palestra de Joshua Benton e Brant Houston

O jornalismo investigativo online pode ser uma alternativa para aqueles que estão cansados de trabalhar em jornais diários e não encontram espaços para publicar reportagens mais aprofundadas e analíticas.

De acordo com Joshua Benton, diretor da “Nieman Lab”, nos Estados Unidos, essa tendência vem aumentando a cada ano.
No começo, muitos jornalistas começam escrevendo em blogs sem fins lucrativos. Passado certo período, seu nome torna-se conhecido naquele meio e ele consegue entrar com projeto e ganhar recursos a órgãos como o Knigth Center for Journalism in the Americas para realizar reportagens de maior fôlego.

“Eu tenho exemplos de um blog que cobria a indústria do chocolate. Eles fizeram uma reportagem surpreendente sobre uma indústria que dizia vender chocolates de qualidade superior, no entanto, os ingredientes que eles utilizaram eram normais, não tinha nada demais. As pessoas estavam pagando por algo que não correspondia com a verdade”.

Brant Houstan, professor da Universidade de Illinois nos EUA, disse que é necessário buscar matérias que a grande mídia não está preocupada em fazer. Entretanto, para realizar essas publicações é preciso dinheiro, o que acaba dificultando um pouco as coisas.

Ele complementa ainda que países fora dos Estados Unidos não possuem tradição de criar instituições para ajudar os jornalistas com treinamentos e até suporte para realizar as matérias.

A mesa discutiu o Jornalismo Independente On-Line

No Brasil, esse tipo de jornalismo mais investigativo publicado em blogs e outras redes estão começando a ganhar espaço.

A moderadora da conferência, a jornalista Natalia Viana da “Pública”, disse que trabalha com jornalismo independente há sete anos, desde que saiu da revista “Caros Amigos”.

“É possível viver  fora da grande imprensa. Eu fazia matérias e conseguia emplacar em várias plataformas. Isso me dava um retorno financeira que permitia ficar cerca de dois meses só produzindo uma reportagem mais interessante”, finaliza.

A palestra Jornalismo independente on-line foi realizada das 9h às 11h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br).Palestrantes: Joshua Benton (Nieman Lab), Brant Houston (Investigative News Network). Moderador: Natalia Viana (Pública)

O sigilo é o refúgio dos incompetentes

Por Luiz Felipe Guimarães (1º ano, ECA-USP)

Fotos: Lina Ibáñez

Kristinn Hrafnsonn,do WikiLeaks, e Gregory Michener, da universidade do Texas, debatem o tema no 6º Congresso ABRAJI

Fernando Paulino, Kristinn Hrafnsson e Greg Michener

A mídia tem um papel fundamental na luta pelo direito às informações públicas. “O acesso aos dados públicos garante a possibilidade de se fazer um melhor jornalismo” disse o canadense Gregory Michener, um dos palestrantes do painel Acesso a Informações Públicas. Segundo ele,  também papel dos meios de comunicação  cobrar os governos por mais transparência. Em um gráfico apresentando pelo palestrante, vê-se que a mídia no Brasil dá mais atenção ao tema do que na Argentina e no Uruguai, mas fica atrás de países como Chile, Guatemala e não atinge nem um terço da cobertura mexicana.

“O sigilo é o refúgio dos incompetentes” disse Michener. Difundir a ideia do acesso às informações públicas é fundamental para fazer crescer esse novo direito.

O canadense entende que o acesso a informações governamentais facilita o exercício da democracia, pois ajuda a afirmar os direitos dos cidadãos de fiscalizar o governo em seus atos administrativos e suas despesas. Michener criticou a falta de clareza do governo brasileiro ao cobrar seus tributos, dizendo: “vocês brasileiros pagam mais impostos do que no Canadá e nem sabem o porquê”.

Greg Michener

Já o porta-voz do Wikileaks Kristinn Hrafnsonn preferiu conversar com a platéia. Bem humorado, alfinetou a imprensa norte-americana: “Alguns jornais chamam o WikiLeaks de ‘associação de anti-segurança’. Se formos pensar que há alguns meses atrás éramos considerados terroristas, isso já é um grande avanço”.

O jornalista  islandês centrou sua fala  na crítica aos governos e a tendência do Estado em  tentar esconder informações importantes do público. Kristinn aponta que essa prática se fortaleceu após o 11 de setembro, e se diz chocado com a passividade das pessoas em aceitar tal atitude dos seus governos: “as pessoas acham que tudo o que é do governo deve ser secreto”.

Kristinn afirma que vê o WikiLeaks  quer influenciar o debate sobre o acesso as informações públicas, e provoca novamente: “o que viemos fazendo é publicar informações de governos e deixando eles furiosos. Eles n chamam de terroristas, trataram o Assange (Julian Assange, fundador do WikiLeaks) como se fosse o Bin Laden”.

Questionado sobre se toda informação deve ser livre,o colega de mesa, Gregory Michener foi contundente em afirmar que teme a divulgação de informações individuais, ideia compartilhada por Kristinn. Ele ressaltou que mesmo assim o governo não deve ter segredos.

A palestra “Acesso a Informações Públicas” foi realizada das 16h às 18h de 01 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Os palestrante foram: Gregory Michener (Universidade do Texas): rgm@gregmichener.com e Kristinn Hrafnsson (WikiLeaks): kristinn@ruv.is

Legislação eleitoral ainda não se adequou às campanhas pela Internet

Por Mateus Marcel Netzel (1º ano ECA-USP)

A eleição presidencial de 2010 no Brasil ficou marcada por ser a primeira em que a Internet teve papel significativo nas campanhas dos candidatos.  O fenômeno, notável principalmente nas redes sociais como o Twitter, Orkut e Facebook, mobilizou eleitores em todo o Brasil e levantou uma série de questões relacionadas ao controle da legislação sobre o uso das novas tecnologias.

A rápida expansão das mídias digitais não foi acompanhada de adequações nas leis eleitorais, o que provocou algumas divergências e incertezas ao longo do último processo eleitoral.  Joélson Dias, juiz do Tribunal Superior Eleitoral, esclareceu que até a eleição do ano passado a Justiça Eleitoral não tinha parâmetros para agir em questões envolvendo a Internet e que, agora, pelo menos, possui referências para as eleições municipais de 2012.

Para ele, o grande desafio da Justiça Eleitoral na esfera digital é conciliar o ambiente livre e democrático da Internet com os casos que violam direitos garantidos por lei. “A Internet deve ser usada para promover a liberdade de expressão, mas alguns princípios garantidos pela Constituição, como o direito à privacidade e a preservação da imagem e da honra devem ser observados”, explicou. O juiz enfatizou também a postura contraditória dos partidos durante o ano passado, quando reclamavam pela liberdade de imprensa ao mesmo tempo em que requeriam à Justiça que repreendesse legalmente seus concorrentes e impedisse a divulgação de certas declarações.

O principal destaque na incorporação de recursos online à propaganda eleitoral foi a campanha de Marina Silva, concorrendo pelo Partido Verde. Com um planejamento de atuação online inovador na política brasileira, a candidata conseguiu superar uma série de desvantagens em relação aos outros candidatos e terminar o primeiro turno com a terceira maior votação, com mais de 20 milhões de eleitores. “É impossível precisar quantos votos a Internet conseguiu angariar, mas, sem dúvida, foi um fator muito positivo”, afirma Caio Túlio Costa, coordenador de mídias digitais da campanha de Marina Silva em 2010.

O comunicador classificou o uso dos recursos digitais na última eleição como um sucesso, apesar das várias restrições impostas pela legislação. Fazendo sempre a comparação com as eleições estadunidenses, apontou uma série de dificuldades na coordenação da campanha, desde a arrecadação de doações, restrita aos 58 dias de campanha oficial, até a proibição da compra de anúncios online.

Segundo ele, as inadequações da legislação devem-se não à Justiça Eleitoral, mas ao “profundo desconhecimento por parte dos nossos legisladores em relação às novas mídias”. Para Dias, a legislação precisa, de fato, ser modificada, mas essas modificações devem ser precedidas por um debate qualificado, opinião compartilhada por Caio Túlio Costa.

A palestra “Onde a Internet falhou nas eleições e por quê?” foi realizada das 16h às 17h30 no dia 01 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Os palestrantes foram: Caio Túlio Costa (e-mail: caiotulio@ig.com.brdownload da apresentação) e Joélson Dias(e-mail: joelson@barbosaedias.com.br). Moderador: Jaime Spitzcovsky

Abraji dá início ao 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo com recorde de participantes

Está tudo pronto para o início do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). O encontro começa nesta quinta-feira, 30 de junho, e reunirá os maiores nomes do jornalismo investigativo do Brasil e do mundo. Dados preliminares indicam a participação de 800 pessoas, entre profissionais, estudantes, professores, e pós-graduandos em comunicação – e neste ano as inscrições continuam abertas mesmo durante o evento.

Uma equipe de recém-formados e estudantes de jornalismo ligados ao projeto Repórter do Futuro, da Oboré (www.obore.com), será responsável pela cobertura oficial do congresso. Reportagens sobre todas as palestras poderão ser lidas no blog https://6congressoabraji.wordpress.com/. As apresentações e os contatos dos palestrantes também serão disponibilizados nesse canal.

Realizado anualmente desde 2005, o Congresso deste ano contará com mais de 70 painéis e cerca de 120 palestrantes e moderadores de diversos países (Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca, Argentina, El Salvador, Paraguai e Islândia).

“O Congresso da Abraji se transformou numa grande ágora dos repórteres brasileiros. Uma vez por ano, este é o maior evento para compartilhar experiências, trocar dicas sobre reportagens e melhorar o padrão do jornalismo no país” afirma Fernando Rodrigues, presidente da Abraji.

Como um dos principais objetivos é a capacitação de jornalistas, o evento é dividido em workshops e palestras cujo principal tema, neste ano, é o jornalismo on-line. Os workshops acontecem no primeiro dia e abordam técnicas de RAC (Reportagem com Auxílio do Computador), investigação de gastos públicos, Índice de Desenvolvimento Humano, interpretação de balanços de empresas privadas entre outros temas ligados ao dia-a-dia de repórteres e editores.

Em todas as edições do Congresso, a Abraji presta homenagem a profissionais da comunicação cujo trabalho contribua de maneira notável para o bom jornalismo. Neste ano, a diretoria da associação escolheu por unanimidade homenagear o jornalista e professor Rosental Calmon Alves, fundador e atual diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e responsável pelo lançamento da primeira versão on-line de um jornal no Brasil, o “Jornal do Brasil on line”. Na sessão solene, marcada para sexta-feira, 1º de julho, às 11h da manhã, Rosental fará uma conferência sobre o estado do jornalismo investigativo e seus desafios na era digital.