Arquivo da categoria: Política e administração pública

Difícil relação entre imprensa e governo compromete qualidade da informação na Argentina

Por Maria Clara Lima (4º ano / Unesp)

Foto: Lina Ibañez (publicitária)

Falta de credibilidade gera crise nos meios de comunicação do país

Gabriel Michi (Fopea/Argentina)

“A desconfiança é generalizada”, relata Gabriel Michi, do Fórum de Jornalismo Argentino. Segundo ele, os argentinos estão saturados da militância política nos meios de comunicação e os jornais não confiam nas fontes governamentais. “É um ciclo. O governo não confia nos jornais, os jornalistas estão submetidos as agendas dos veículos e a população à falta de credibilidade de seus periódicos”. Gabriel Michi lembra a crise no jornalismo argentino é um reflexo da história recente do país.

Na década de 1990, o presidente Carlos Menem assumiu uma relação de troca com os meios de comunicação, quando lhes eram favoráveis, concedia favores aos veículos argentinos. O presidente do Partido Peronista tinha como missão resgatar a Argentina da profunda crise economia que assolava o país. No final de seu mandato, em 1999, os jornais iniciaram uma cruzada para que ele não se reelegesse, tendo em vista a situação insustentável que culminou na moratória da dívida externa do país. Durante a “Era Kirchner”, que começou em 2003 com a eleição de Néstor Kirchner, e continua com o mandato de Cristina Kirchner, o relacionamento da imprensa com o governo tornou-se insustentável, e para defender suas receitas, os veículos de comunicação passaram a se submeter cada vez mais a publicidade. De 2003 até 2010, as propagandas de empresas privadas aumentaram de 887 mil para mais de três milhões de dólares. Além disso, a publicidade do governo também cresceu, e passou de 15 mil para cerca de 150 mil dólares. “Se não há propaganda, seja ela oficial ou privada, não há jornal”, explica Hennmann, jornalista brasileiro e ex-correspondente da Folha de S.Paulo na Argentina.

Para piorar a situação, os jornais passaram a depender da agenda política da presidente e do jogo de poder entre o governo e a imprensa. Um exemplo disso é a relação conflituosa com o Grupo Clarín, que deliberadamente desaprova o Governo Kirchner.

Crise econômica e ética

A crise financeira argentina que começou no início dos anos 90 e se agravou em 2001, reduziu o poder de compra da população em torno de 50%. Por isso, a venda de periódicos no país caiu drasticamente, fazendo com que os jornais dependessem cada vez mais do dinheiro obtido pela venda de espaço publicitário.

Apesar da visível recuperação econômica do país, desde 2006 as oscilações no consumo de produtos jornalísticos mostram o reflexo da crise de confiança entre os meios e a população. “Apesar de a economia estar se recuperando, não há sinal de que os periódicos voltarão ao mesmo índice de vendas”, explica Michi. Nos últimos 10 anos, o jornalismo político na argentina vem sendo prejudicado pela relação conturbada entre jornais e órgãos oficiais.

O jornalista Gabriel Michi explica que a dependência econômica dos meios de comunicação às empresas, resultou na falta de credibilidade da imprensa que se tornou cada vez menos imparcial.  A opinião e militância saturaram as publicações e canais que agora enfrentam uma crise com a redução de sua audiência. O partidarismo dos meios de comunicação é excessivo naquele país, e os leitores chegam a classificar a imprensa como “militante”. Segundo ele, a exaltação de alguns jornais chega ao antiprofissionalismo, e o que se vê são denúncias e defesas, onde os interesses públicos acabam ficando em segundo plano. “Enquanto os indícios viram provas nas mãos de alguns repórteres, irregularidades passam despercebidas por outros. Esse tipo de cobertura prejudica a qualidade da informação, ninguém confia em ninguém”, desabafa.

Imprensa argentina tem visão parcial do Brasil 

O jornalista brasileiro Gustavo Hennmann, ex-correspondente da Folha na Argentina, descobriu logo que chegou ao país que não podia contar com as fontes oficiais para fazer seu trabalho. “A maioria dos jornalistas nem tenta mais contato com o Governo. Ficou impossível trabalhar com eles”. Hennmann falou da cobertura feita na Argentina sobre o Brasil. Para ele, a imparcialidade também faz parte da agenda do jornalismo internacional praticado no país. “Eles usam o Brasil como grande exemplo de sucesso, algo que eles deveriam ser. Exaltam a política brasileira e pecam na checagem”. Segundo o jornalista, a maioria dos jornais não podem financiar profissionais para trabalhar no Brasil, e a cobertura é feita quase que somente pela assessoria do governo brasileiro. “Desse jeito, fica difícil fazer uma apuração analítica e profunda”.

A palestra “Desafios da cobertura política na era Kirchner foi realizada das 14h às 12h30 de 1 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrante:  Gabriel Michi (Fopea/Argentina) foi mediado pelo jornalista Gustavo Hennemann (Folha de S.Paulo) 

A vida como narrativa

Por Géssica Brandino (jornalista)

Colaboração de Juliana Conte (jornalista)

Uma sala lotada por jornalistas à procura de uma boa história e dos segredos para contá-la. A expressão dos jovens que preenchiam o espaço era de reverência. Como na obra de Rodin, “O Pensador”, a maioria mantinha o rosto sobre as mãos, na posição de ouvinte. Atenção voltada para uma jornalista que, com a fala doce e calma, falava sobre a importância de escutar o outro, observar cada detalhe, duvidar, complicar a pauta e perceber que aquilo que é silenciado é tão fundamental quanto o que é dito para que uma vida seja contada.

Eliane Brum (freelancer)

Assim, Eliane Brum narrou a história de HusteneCosta Pereira,que ela acompanha há nove anos.  Em2002, arepórter encontrou nele a personificação da pobreza contemporânea trazida pelo desemprego. Hustene era um excluído, que sentia falta dos bens de consumo aos quais havia tido acesso. A vergonha por não trabalhar o fazia se esconder dos vizinhos durante o dia e passar a noite em claro. O desespero e stress eram tamanhos que ele perdeu 30 dos 32 clientes durante esse período. Apesar de tudo, ele tinha uma trindade que o sustentava: religião, ideologia e o Corinthians. Como um filho que conta coisas à mãe, Hustene escrevia, num diário, para Nossa Senhora de Fátima. Já para comentar sobre sua visão política, traçava linhas para Che Guevara. Além disso, desde 1974, montava álbuns sobre a história do time do coração. “A vida é a narrativa da vida e o Hustene narrava a dele de um jeito muito particular”, contou Eliane.

Segundo a repórter, é preciso estar atento a tudo, pois o que parece trivial pode ser a peça chave para decifrar alguém. “A realidade é muito mais complexa do que aquilo que é dito. É aquilo que não é dito, o que quase foi dito,  o silêncio. A realidade é cheiro, textura e gestos. É tudo isso. A nossa obrigação, como jornalistas, como repórteres, é dar a complexidade do real”, ressaltou.

Mesmo após a publicação de “O Homem estatística”, ao final do governo FHC, a jornalista não rompeu o contato com os Costa Pereira. Na verdade, a família não deixou que ela, que esteve tão presente como “escutadeira”, deixasse a vida deles da noite para o dia. Por meio de telefonemas, emails, mensagens e visitas a repórter continuou a acompanhar a saga do brasileiro.

Em maio de 2005, Hustene finalmente conseguiu um emprego e chegou à classe C, a nova classe média brasileira. A mudança não foi meramente econômica.  A mesa, na qual antes havia arroz com limão, hoje está farta de carne. A vida deles, na qual o futuro era incerto, hoje está repleta de sonhos. Foi somente em 2009 que Eliane, ao ser convidada para uma palestra sobre o governo Lula, percebeu que tinha em mãos uma reportagem pronta sobre o período.  “Uma família no governo Lula”, publicada no início de 2011, é o retrato vivo de uma história que vai do desespero à esperança.

“O exemplo da família do Hustene é magistral, no sentido que ela nos dá a perspectiva de que nós, jornalistas, ainda podemos continuar sonhando em transformar o mundo. Com uma revolução? Não. Mas com a qualidade do texto e a investigação do nosso trabalho, que ajuda a formar novas consciências”, finalizou o jornalista Celso Falaschi, moderador da palestra.

A palestra “Uma família no governo Lula” foi realizada das 14h às 16h30 de 02 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, com parte do 6° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). A mesa foi moderada pelo jornalista Celso Falaschi A palestrante foi Eliane Brum elianebrum@uol.com.br http://www.twitter.com/brumelianebrum. Clique para ler a reportagem Uma família no governo Lula e A história dentro da história.

Jornalismo investigativo exige planejamento e paciência

Por Luiz Felipe Guimarães ( 1º ano/ ECA/USP)

Foto: Lina Ibañez (publicitária)

Os jornalistas Leandro Colon, Matheus Leitão e Roberto Maltchik, em mesa moderada por Fernando Molica, discutiram a cobertura dos escândalos de Brasília. Apresentando suas matérias, os jornalistas provaram que para fazer jornalismo investigativo é preciso método.

“Siga o dinheiro” foi a dica dada por Matheus Leitão. O jornalista frisou que o importante não é a quantia, mas sim como está sendo usado. Como ele mesmo disse: “Às vezes a quantia desviada não passa de mil reais, mas é por isso que vamos deixar investigar e noticiar?”.

Leandro Colon, Fernando Molica e Matheus Leitão.

É preciso paciência, estar sempre atento às publicações do Diário Oficial e manter um bom contato com as fontes. “As minhas principais fontes são o Diário Oficial, os cartórios, os sites dos ministérios e, é claro, algumas particulares”, disse Leandro Colon . Para Maltchik “o trabalho do repórter investigativo não tem ‘arapongagem’, o que importa é o seu método de pesquisa das fontes, a maioria públicas”.

O moderador, Fernando Molica, brincou ao dizer que esse tipo de cobertura demanda um trabalho constante: “O manancial de roubalheira no país é muito grande. Isso aqui não é a Suécia”.

A palestra Cobertura Política em Brasília: a era dos escândalos foi realizada das 14h às 15h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrantes: Roberto Maltchik (O Globo), Matheus Leitão (Folha de S. Paulo), Leandro Colon (O Estado de S. Paulo) Moderador: Fernando Molica (O Dia)

Kristinn responde aos jornalistas

Kristinn Hrafnsson, representante do Wikileaks, falou sobre ética, dinheiro e motivações no jornalismo, durante a coletiva de imprensa da palestra Wikileaks – impactos dos vazamentos para o jornalismo investigativo no 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

Por Maria Clara Lima (4º ano/Unesp)

Kritinn Hrafnsson

Que tipo de desafios éticos vocês encaram em divulgar tanta informação? 

Nós trabalhamos com uma política restrita onde não devemos soltar informações inúteis que possam causar danos a alguma pessoa intencionalmente. Não vamos dizer que  não iremos falar em nomes ou citar nomes nos documentos. É quase necessário dizer que quando envolvemos ofícios políticos, técnicos ou pessoas em poder.  Nós temos o compromisso com as pessoas que não têm esse poder. Nós somos frequentemente chamados de inconsequentes, eu posso dizer que essas pessoas estão erradas, nós temos sido bastante cuidadosos. Há histórias grandes que soltamos sobre o Iraque, Afeganistão, missões diplomáticas em todo o mundo e Guantanamo, nenhuma pessoa foi prejudicada nesse processo. Esses relatórios são conhecidos pelo governo dos Estados Unidos, pelo Pentágono, pela OTAN, por oficiais do Afeganistão , e só porque divulgamos algumas declarações desses documentos nós estamos sendo descuidados. Isso está errado. Quando os documentos sobre o Iraque foram lançados, nós tivemos um cuidado de marcar algumas informações que poderiam causar algum efeito negativo.

Qual a importância que o Bradley Manning teve para o Wikileaks?

Você disse que o Bradley Manning foi a fonte do material que estamos lançando nos últimos 14 meses, alegam que ele é a fonte, eu não tenho conhecimento sobre se ele é a fonte ou não.   Ele está encarando um julgamento difícil, e se ele for de fato a fonte desses documentos, ele é o mais importante informante da atualidade, em minha opinião ele é um herói e deve ser solto.    Ele [Manning] está preso em uma solitária há 10 meses, foi despido e humilhado, impedido de dormir, torturado. O Wikileaks não aconteceu de uma vez só, começou em 2006 e até o ano passado já tínhamos soltado algumas informações. O projeto que desenvolvemos em 2010, de permitir a informação aos documentos que tínhamos foi um resultado disso. Mas se Bradley Manning foi o informante, sem ele não teria sido o mesmo. Por causa do vazamento desses documentos, pudemos expor alguns governos como o Queniano, onde ocorria corrupção e matanças, o da Costa do Marfim e o derramamento de lixo tóxico, coisas erradas que aconteciam no setor de bancos. A coisa engraçada é que sempre fomos vistos como anticapitalistas, antiamericanos, mas eu amo a Primeira Emenda, e chego a desejar que os americanos fossem mais fãs dos princípios da Primeira Emenda, mas eles pareceram esquecer o que é liberdade e democracia O Wikileaks para de funcionar amanhã, mas o nosso trabalho não foi terminado, porque a ideia está aí, e isso é o mais importante.

Você leu o livro Wikileaks do editor do The Guardian? 

Sim, eu li o livro do David Lee e seu parceiro [Luke Harding], e o mais interessante é o que está faltando nas informações. Há um exemplo que eu gosto muito. A primeira página do livro conta uma anedota sobre o Julian Assange, dizendo que por causa de sua paranoia, ele se vestiu de mulher para tentar escapar de um hotel, entrou em um beco escuro e partiu em um carro vermelho batido. Não havia carro batido algum, porque fui eu quem alugou o carro, e era uma minivan preta! Alguns amigos dele ouviram a história e contaram na redação do “The Guardian”, mas ele nem estava lá. Eu tirei a foto do Julian vestido de mulher e mostrei a um jornalista, que contou a história para David. Por que o Julian estava vestido assim? Era tudo uma brincadeira. Pegamos o casaco da Natalia [Viana], um cachecol e tiremos fotos. David Lee pegou essa piada e usou para mistificar a imagem de excêntrico do Assange.

Gostaria que o senhor falasse da diferença entre investigar documentos públicos e documentos de empresas privadas.

Não há diferença em termos de técnica jornalística de investigação, já que a posse do nosso material não está ligada de onde ele vem. Algumas informações são extremamente técnicas e difíceis de ler, como os documentos com linguagem militar que recebemos sobre o Iraque. Depois dessa fase, partimos para a apuração e verificação dos documentos, para a investigação.

 Você considera o jornalismo colaborativo caro? Qual a relação entre o jornalismo de qualidade e o dinheiro?

Dinheiro sempre foi um fator difícil no jornalismo. Estou lendo um livro editado pelo John Pilgrim sobre suas matérias e investigações, e o que me chama atenção é que há momentos que não há dinheiro, ou sofremos censura, e até temos que trabalhar de graça até conseguirmos o primeiro furo, a primeira grande história. Há aqueles jornalistas tradicionais que se acomodam a receber informações e apenas distribuí-las.  Até mesmo na grande mídia, podemos enfrentar situações assim, empresas diminuem o orçamento e não há dinheiro para fazer matérias investigativas, e mesmo assim há aqueles que fazem e conseguem uma boa apuração. É aprender a se virar, e aí entra a importância do jornalismo colaborativo. Internet, blogs, comunicação virtual, tudo isso ajuda na hora de se escrever uma história. Temos a estrutura da redação, mas de maneira independente. Há blogs assim na Romênia, na Bulgária. Ao compartilhar esses dados, os jornalistas estão colaborando para apuração de outros que não podem ir até lá. Temos que ter a convicção de que não trabalhamos para as organizações midiáticas, nem para enriquecer nosso perfil, nem para o governo, e sim para o público.

As perguntas foram feitas durante a palestra Wikileaks – impactos dos vazamentos para o jornalismo investigativo foi realizada das 09h às 10h30 de 01 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). A mesa foi moderada pelo jornalista Fernando Rodrigues (e-mail frodriguesbsb@uol.com.br). Os palestrantes foram:  Kristinn Hrafnsson (e-mail kristinn@ruv.is) e Natalia Viana (e-mail viana.natalia@gmail.com)

Os riscos e as vantagens do humor no jornalismo

Por Luiz Felipe Guimarães (1º ano, ECA-USP)

Foto: Vinicius Gorczeski

Marcelo Tas, jornalismo e humor

O último dia do 6º Congresso ABRAJI contou com a presença de Marcelo Tas, jornalista e humorista, para palestrar sobre a Cobertura Política com Humor. A palestra foi pautada pela  grande questão deste tipo de cobertura: o quão válido é o humor no Jornalismo?

Antes do início da palestra o que mais se ouvia na plateia eram comentários sobre o CQC, programa em que Tas é âncora e coordenador editorial, e especulações sobre qual tom teria a apresentação. Aqueles que esperavam por um tom descontraído não se decepcionaram: logo de início Marcelo brincou com o horário da palestra: “Palmas para nós que levantamos hoje cedo”. Em seguida, apresentou vídeos de Ernesto Varela, um antigo personagem que era um repórter/humorista.

Tas acredita que o Brasil tem paladar especial pelo humor misturado com o jornalismo, mas adverte que, a priori, os dois são incompatíveis: “O humor é impreciso, às vezes irresponsável, enquanto o jornalismo tem o dever de ser exatamente o oposto”. Com essa declaração Tas aproveitou para criticar a postura da mídia, que na ânsia de vender suas notícias, chega a ser menos responsável e séria do que muitos humoristas.

Como um entusiasta do humor no jornalismo, Tas constantemente ressaltou como o humor potencializa o efeito de uma matéria. Dando exemplos do CQC, programa que em seu início sofreu com a indiferença dos políticos, mas hoje é respeitado por eles, mostrou como o humor na cobertura política incentivou jovens a se interessarem pelas notícias do Planalto.

Perguntado se os telejornais tradicionais deveriam introduzir o humor em suas matérias, Tas foi contundente em afirmar os riscos: “o humor é sofisticado, caro e difícil. As chances de erro da mistura entre piada e informação são imensas”. Para ele, existe uma grande diferença entre o jornalismo com humor e jornalistas engraçadinhos.

A palestra Cobertura de administração pública com humor foi realizada das 9h às 10h30 de 2º de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br).Palestrante: Marcelo Tas (CQC).

Além da notícia: os bastidores da política

Por Michele Francisco(3º ano/Anhembi Morumbi) e Efraim Caetano (3º ano/Anhembi Morumbi – 2º ano/Unicsul)

A cobertura política foi o foco da palestra de Renata Lo Prete e Gerson Camarotti

O cenário político no Brasil é bem conturbado e cheio de escândalos. Para mostrar os desafios que os jornalistas encontram ao apurar as notícias desse segmento, Renata Lo Prete e Gerson Camarotti contaram suas experiências nos bastidores da política. “Os atos políticos não são estáticos, por isso, o jornalista tem que ter humildade para explicar a mudança de cenário”, afirma Camarotti.

Lo Prete, editora da coluna Painel Político do jornal “Folha de S.Paulo”, destacou que seu trabalho “é um mosaico do pulso político no ciclo noticioso 24 horas por dia”. Para a jornalista, as fontes têm de ser variadas para transmitir a visão mais completa do cenário da política. “Como não existe ninguém sem interesse, procuro retirar daquelas pessoas o que é menos importante para elas e mais importante para o público”, conclui.

Para a jornalista, sua relação com as fontes é permitir “que as pessoas mintam”. A partir daí, com “o cruzamento das versões eu consigo uma verdade”.  Desta forma, Lo Prete deixa clara a importância de não se pautar em apenas uma pessoa, mas em várias, para poder cruzar as informações e chegar naquilo que é de interesse do público.

Camarotti, jornalista da sucursal de “O Globo” em Brasília e comentarista político da Globo News, complementou as informações  e ressaltou que estudantes e profissionais de comunicação devem remanejar as informações para que elas sejam noticiadas.  O jornalista apresenta esse cenário contando exemplos, um deles foi a cobertura da eleição do Papa em 2005.

Ele afirma que é uma eleição difícil de ser apurada, porque são pessoas fechadas, e o acesso às informações é restrito. “Fui fazendo uma rede de abordagens diferentes, com um vinho para descontrair, e após meses de apuração, consegui uma fonte que falasse como se dá todo o processo da eleição do papa”.

Os jornalistas expõem qual a atitude deles diante do erro. Camarotti prefere levar o “furo jornalístico” do que noticiar o que ele não tem certeza.  Renata é enfática: “me considero retranqueira. Credibilidade é tudo o que possuo e tenho que dar valor a isso”. Ela afirma que já cometeu vários erros é a melhor coisa que tem a se fazer nesse momento é assumir.

O mediador, diretor da Abraji e jornalista do jornal “Correio Braziliense”, Alon Feuerwerker, disse que em toda a cobertura política o jornalista adota uma maneira de trabalho. “O fundamental é transmitir a informação correta e não morrer abraçado em uma aposta”, e ressalta que os jornalistas tem de ter uma relação firme com o erro e assumi-lo.

A palestra Desafios do jornalismo político: Como ir além dos escândalos e da burocracia partidária foi realizada das 09h às 10h30 de 1º de julho de 2011, na sede da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). A mesa foi moderada pelo jornalista Alon Feuerwerker. Os palestrantes foram Gerson Camarotti (e-mail gcamarotti@bsb.oglobo.com.br) e Renata Lo Prete (e-mail renataloprete@grupofolha.com.br).