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Homenagem a Rosental Calmon Alves é recheada com bom humor

Por Vinicius Gorczeski (4° ano/Metodista)

Foto: Lina Ibañez

O homenageado do evento, Rosental Calmon Alves

O homenageado do evento, Rosental Calmon Alves

A homenagem ao diretor do Knight Center for Journalism in the Americas, Rosental Calmon Alves, nem de longe foi marcada por choradeira. O evento, que reuniu cerca de 450 pessoas no auditório, contou casos da vida do jornalista e arrancou risadas – tanto de Alves quanto da plateia. Muitos dos episódios foram contados por nomes consagrados da imprensa, como o colunista da “Folha de S. Paulo” Clóvis Rossi e a colunista de “O Globo” Miriam Leitão. O cinegrafista da “Rede Globo” Toninho Marins relatou uma memória particularmente pitoresca, quando ambos cobriram a guerra civil, na Nicarágua.

“Estávamos voltando, num jipe, em estrada terrível, inclusive com rifles apontados para a gente, vimos um opala, rabo de peixe, com uma figura dentro. Estava com chapelão e fumava charuto cubano: Era Rosental.”

E não parou por aí. Cada um dos depoimentos, em vídeo ou por mensagem, brincou com o homenageado.

Para chegar à honraria concedida pela organização, ele passou por tudo: da habilidade para operar um telex, equipamento de comunicação usado no século passado (que lhe rendeu o apelido de Rosentelex, segundo William Waack) à capacidade de situar os descaminhos e alternativas para o jornalismo – sobretudo investigativo – na era digital.

O presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Fernando Rodrigues, que mediou o evento, sintetizou na fala do jornalista norte-americano Brant Houston – um dos precursores a utilizar técnicas de RAC (Reportagem com Auxílio do Computador) – os motivos pelo qual o cinquentenário mereceu a honraria da 6ª edição do Congresso: “É apaixonado e visionário”.

Prova disso são os vídeos com o fundador do Knight Center, sempre pensando o jornalismo além do tempo atual: integrado às novas tecnologias. Tem também a capacidade de unir continentes e diferentes profissionais, como acadêmicos e jornalistas. O americano se referia à extensa carreira, nacional e internacional, de Alves. Especialmente quanto ao jornalismo investigativo, em que comentou sobre os desafios da modalidade de reportagem. “Está ameaçada por uma lógica errônea de que não traz rentabilidade às empresas de comunicação, perdendo espaço gradualmente no mercado americano.” Ele citou como exemplo a escassez de matérias do tipo concorrendo ao maior prêmio jornalístico dos Estados Unidos, o Pulitzer. E praticamente sem presença no Brasil.

Rodrigues destacou a trajetória de Alves, que passou por todas as mídias, e como pôde contribuir com a consagração da Abraji, em 2003, logo após o assassinato do jornalista Tim Lopes, um ano antes. “Meu coração tá disparado”, diz ele, que afirmava estar quase chorando. Não resistiu.

As lágrimas vieram quando se referiu à esposa, Cláudia Rabelo Calmon Alves, e aos quatro filhos – família sentada na primeira fila – a quem agradeceu pela placa comemorativa. “(O evento) é bom para mostrar a eles o que o papai faz quando viaja.” Mais uma vez, arrancou risos dos presentes.

“Essa placa me estimula a continuar com a missão que me propus há mais de uma década: ajudar meus colegas jornalistas da América Latina e do Caribe, para que estejam interessados em levar adiantes seus próprios projetos a fim de melhorar a qualidade do jornalismo nos seus países”, afirma, ao acrescentar que se sente privilegiado por fazer parte da Abraji desde a fundação. “Esse feito é um bem indispensável para construção de uma sociedade mais justa e democrática.” Modesto, disse que os homenageados de outras edições do Congresso mereciam mais o prêmio do que ele.

Desafios

Adepto das transformações tecnológicas, Alves elaborou os “sete tuítes”, mandamentos em frases curtas, tais como as que se publica no Twitter. São premissas para um jornalismo eficaz no mundo digital. Cenário esse que exige a criação de um novo ecossistema de mídias, o que nada mais são que a quebra de paradigmas nas comunicações. Hoje, a quantidade de informação, participação dos receptores de conteúdo, diversos canais de comunicação e custos cada vez menores de produção são recorrentes – o que não ocorria na era “analógica”.

Outro ponto previsto por Alves é que haverá lenta ruptura dos modelos de negócio, produção e distribuição do jornalismo, que tende a continuar. Essa transformação prejudicava o jornalismo investigativo, em momento difícil por conta da visão de que é caro praticá-lo.

Mas isso está mudando, segundo o jornalista. Há mais entidades representativas ressaltando a necessidade de se investir nesse formato, devido à importância que tem para a democracia. Geralmente isso ocorre porque são reportagens que revelam fatos de grande interesse público. Destrincham mau uso de dinheiro público.

Segundo Alves, a sociedade digital terá poder de reerguer o jornalismo investigativo porque é fácil praticá-lo. “Vai exercer pressão pela transparência, pois não tem sentido nem desculpa não transparentar mais. O governo tem feito isso. O resultado disso é que a democracia se aperfeiçoa.”

Guiado pelo trabalho, ele descarta que vá parar de atuar em torno do jornalismo investigativo, apesar da contribuição dá à atividade desde os 16 anos. A esposa não reclama, pelo contrário. “Ele é uma pessoa que faz o que gosta. Descobriu isso e adora. É feliz. E falta muito ainda (para ele fazer). Fica com coceira se ficar parado”, diz Cláudia Alves. “Espero que nunca pare, porque com isso ele está vivendo bem. É o jeito que ele gosta.”

A sessão solene que homenageou Rosental Calmon Alves foi realizada das 11h às 13h de 1º de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Participaram: Rosental Calmon Alves (Knight Center ), Fernando Rodrigues (Abraji) e João Garção (Diretor da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi).

Entusiasmo de iniciante aos 43 anos de jornalismo

Por Camila Moura (2º ano/FIAM) e Alexandre Dall’Ara (3º ano/ ECA-USP)

Foto: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista)

Rosental recebe homenagem ao lado da mulher e dos filhos

Pensamentos rápidos, gentileza à toda prova e um entusiasmo juvenil pelo jornalismo. É assim Rosental Calmon Alves, jornalista, professor da Universidade do Texas, fundador e atual diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

O grande homenageado do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji parece não ter receio em mostrar seu lado humano, convivendo humilde ao lado do profissional renomado.

Natural do Rio de Janeiro (RJ), Rosental Calmon Alves, 59 anos, começou a trabalhar como jornalista em 1968. Tinha 16 anos e foi repórter de “O Jornal”, publicação dos Diários Associados no Rio de Janeiro. Entre outros veículos, passou no início de sua carreira pelas rádios Tupi e Nacional, no Rio, e pelas revistas “IstoÉ” e “Veja”. No “Jornal do Brasil”, teve participações marcantes como correspondente em Madri, Buenos Aires, Washington e Cidade do México.

Sorridente e atencioso, nos convidou a acompanhá-lo de volta ao hotel onde esqueceu o celular, demonstrando que, como todo jornalista, não consegue ficar desconectado um minuto. Durante o percurso, comentou como se sentia com a homenagem e sua ligação com a Abraji.

“Estou muito emocionado, porque minha família estará presente nesta homenagem. Estou mais acostumado a homenagear do que a ser homenageado. A Abraji foi o primeiro projeto do Knight Center e sua independência me deixa muito satisfeito”.

Rosental ajudou a criar a Abraji, logo depois da morte do jornalista Tim Lopes, seu amigo pessoal. Ele conta que recebeu a notícia trágica no dia seguinte do começo das atividades do Centro Knight de Jornalismo nas Américas, dirigido por ele. O professor largou o trabalho nos Estados Unidos e veio ao Rio de Janeiro para o enterro do amigo. Após o caso, um grupo de profissionais e colegas começaram a articular dois congressos, um na capital fluminense e outro em São Paulo, que resultaram na criação da Abraji.

Para Rosental, o começo da Abraji guarda uma profunda relação com outra história marcante e triste do jornalismo: a morte de Don Bolles, exatos 26 anos antes do assassinato de Tim. O atentado a bomba matou o jornalista americano e gerou uma forte reação dos colegas. Os casos de corrupção foram devassados em vez de esquecidos. O jornalista foi um dos fundadores da Investigative Reporters and Editor (IRE) – associação americana que reúne repórteres e editores investigativos.

Rosental foi o primeiro brasileiro a ser aceito como bolsista da Fundação Nieman para Jornalismo da Universidade Harvard, nos EUA. A Nieman foi criada em 1937 e é a mais prestigiada bolsa de estudos de jornalismo do mundo.

Em Harvard, teve contato com novas tecnologias e com os primórdios da revolução que estava por acontecer com a internet. De volta ao Brasil, Rosental foi pioneiro e criou em 1991 o primeiro serviço de notícias em tempo real por computador – o Sistema Instantâneo de Notícias, da Agência JB. Em 1995, outra contribuição sua para o jornalismo brasileiro: comandou a equipe que colocou no ar a primeira versão de internet de um jornal do país – o JB Online.

Em 1996, aos 44 anos, depois de mais de um quarto de século como jornalista, decidiu dar uma guinada em sua vida profissional. Ao ler um anúncio na revista britânica “The Economist”, concorreu a uma vaga de professor de jornalismo na Universidade do Texas, em Austin. Superou duzentos candidatos na disputa e conquistou a cobiçada cátedra John S. and James L. Knight.

A partir da sua nova posição, tornou-se um benemérito do jornalismo em termos globais. Em 2002, com um financiamento de US$ 2 milhões da Knight Foundation, Rosental criou o Centro Knight para Jornalismo nas Américas. Esse centro é um dos mais bem sucedidos projetos para incentivar as boas práticas de reportagem nas Américas e influencia profissionais de todo o planeta.

Rosental se autointitulou como um “evangelizador digital”. Durante seu discurso, sua fala demonstrava a emoção. “Não tenho sangue nas veias, tenho tinta”.

A Homenagem a Rosental Calmon Alves – O estado do jornalismo investigativo e seus desafios na era digital foi realizada das 11h às 12h30 de 1º de julho de 2011, na sede da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br).

A importância de Rosental Calmon Alves para a imprensa brasileira

Por Géssica Brandino (jornalista), Juliana Conte e Luiz Felipe Guimarães (1° ano/ ECA/USP)

Ao longo da carreira, Rosental Calmon Alves fez mais do que contatos profissionais. Mudou conceitos, abriu caminhos para novas discussões no jornalismo, inspirou gerações de profissionais e conquistou respeito, admiração e amigos. Abaixo, alguns depoimentos de jornalistas que estiveram presentes na homenagem feita durante o Congresso.

André Luiz Azevedo

André Luiz Azevedo (TV Globo)
“Conheço o Rosental há quase 40 anos e a carreira dele foi sempre feita de desafios e muita coragem. Ele criou a figura do correspondente trabalhador, ralador, que entrava em todas as áreas. A gente não sabe se é por sorte, mas na verdade ele sempre esteve onde o fato acontecia.
Para nós [TV Globo], o Rosental teve um papel muito importante após a morte do Tim Lopes, porque nos deu uma assessoria de como nos comportarmos. O aconselhamento dele foi muito importante para criarmos uma cultura de segurança para os jornalistas.”

Ana Arana (Fundación MEPI)
“Ele é um grande jornalista e um amigo, porque tem feito um trabalho de construir e promover o jornalismo latino-americano e estamos muito contentes de homenageá-lo. Há pessoas no mundo que conectam coisas, e ele é um conector no trabalho do jornalismo no mundo todo.”

Ricardo Gandour (O Estado de S. Paulo)
“Rosental é um jornalista que olhou o mundo antes da globalização ser algo tão explícito. Pensou fora da caixa, incorporou rapidamente uma abordagem multimídia inovadora na prática jornalística e levou isso para a academia. Hoje ele é um profissional completo e um exemplo de como nós jornalistas nunca podemos parar de estudar e pesquisar.”

Marcelo Moreira (TV Globo/ Abraji)
“O Rosental é a maior fonte de inspiração para os jovens jornalistas, porque embora tenha uma vasta experiência, ele está sempre se reciclando. Ele está sempre se recriando e ensinando coisas aos mais jovens. Ele dá uma contribuição que não tem preço para o jornalismo.”

Fernando Rodrigues (Folha de S. Paulo/ Abraji)
“Rosental é um jornalista que inspira gerações de outros jornalistas. Ele tem sido um evangelizador a respeito da necessidade de se perseverar com o trabalho do jornalismo investigativo. Ele foi muito importante para a criação da Abraji e, por isso, foi hoje homenageado aqui.”

Mario Vitor Santos (Casa do Saber)
“Foi a pessoa que me deu meu primeiro emprego como jornalista, na rádio do Jornal do Brasil. Tudo que aconteceu comigo foi muito baseado nas experiências que aprendi com ele. Rosental é sempre essa pessoa de muito bom caráter, excelente profissional, rápido, hábil, competente, inquieto, inspirador e informado. Um exemplo em todos os sentidos. É uma alegria poder ter convivido e acompanhado essa pessoa.”

Rodney Pinter (INSI)
“A sua grande experiência como repórter, o trabalho que ele realizou com a Abraji e com e que ele realiza na Universidade do Texas são feitos notáveis!”

Gil Castello Branco (Contas Abertas)
“Olha, o Rosental é uma bíblia para o jornalismo brasileiro. Sua capacidade se adaptar a tudo de novo é realmente impressionante.”

Marcelo Beraba (O Estado de S. Paulo/ Abraji)
“O Rosental encarna a grande importância da missão jornalística.”

José Roberto Toledo (O Estado de S. Paulo/ Rede TV!/ Abraji)
“Rosental é um dos nomes mais importantes do jornalismo brasileiro. Eu o conheço desde 2003. Partiu dele a ideia da criação da Associação de Jornalistas das Américas. Foi uma revolução.”