Desafio econômico de Dilma Rousseff está na sustentabilidade

Por Vinicius Gorczeski (4° ano/ Metodista)

Foto: Lina Ibañez

Não é só a elevação dos preços – conhecida e repetida com frequência nos jornais como inflação – que a presidente Dilma Rousseff terá de enfrentar na política econômica. A insistência do indicador do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em bater no teto da meta de inflação do Banco Central, que no acumulado 12 meses está em 6,77% (o valor máximo estipulado é de 6,5%), não é nem o principal problema, segundo a colunista de “O Globo” Miriam Leitão.

Miriam Leitão (O Globo)

Questões sustentáveis, como a preservação da Amazônia, que cobre 60% do território brasileiro, e demais regiões, cobertas por mata Atlântica, cujas áreas remanescentes não superam os 7%, serão assuntos a serem discutidos e reportados pelos futuros jornalistas econômicos. Temas se unem porque, segundo Leitão, falar de um é falar de outro. Escassez de recursos naturais é sinônimo de perda de dinheiro.

“Quanto custa para o país manter ou não suas reservas em prol do desenvolvimento econômico? Entendo a biodiversidade da Amazônia como uma floresta não desbravada. Imagine queimar essa biblioteca sem conhecê-la”, diz. Ela comenta que esses dilemas ainda esbarram em práticas ilegais, como na exploração de madeira e uso de carvão ilegal na siderurgia. “Não sejamos ingênuos, empresas fazem vistas grossas sobre como os fornecedores obtêm suas matérias primas de seus respectivos distribuidores”, diz Leitão, ao destacar que o papel do jornalista econômico também está em fiscalizar a cadeia de distribuição desses recursos a fim de checar ilegalidades – quanto a dinheiro e recursos naturais.

Outra crítica quanto ao tema é o desenvolvimento versus preservação ambiental. Para sustentar a ideia, a colunista cita a construção da usina de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. A promessa governamental é de que a obra oferecerá 11 mil megawatts de energia. “Isso é uma mentira. A capacidade média de geração é de 4,5 mil megawatts, e há especialistas que apontam que isso será possível apenas por dois meses do ano, nos demais não haverá, por conta do clima, com muita seca, capacidade para essa quantidade”, critica. “Será que vale a pena tanto desmatamento com a contrapartida do que Belo Monte vai conseguir propiciar?”, completa, ao questionar sobre a razão pelas quais alternativas de desenvolvimento energético não são adotadas, como a eólica ou a solar; não poluentes e que não desapropriariam moradores locais – caso da população que mora nos entornos da barragem de Belo Monte.

Aumentando a complexidade da discussão, Leitão também comenta se, apesar de tudo, é possível ignorar o potencia hídrico da Amazônia para produção de eletricidade. “Essa é a fronteira da discussão: o que vale mais?” – temas para os futuros repórteres de economia ajudarem a responder.

INFLAÇÃO

Autora do livro “A saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda”, em que reporta a evolução do poder de compra do dinheiro no Brasil, com hiperinflação há 30 anos, Leitão afirma que a preocupação atual da imprensa em torno do indicador é forma de pressionar por ações que mantenham os níveis estáveis, ao contrário de uma época em que os preços variavam ao longo de um único dia. Índices que superaram, em 15 anos que antecederam a execução do plano real, a impressionante soma de 13 trilhões e 342 bilhões por cento.

“Fiquei ainda mais feliz de ver que nosso trabalho serviu para explicar todas as mudanças complexas, planos fracassados para conter a inflação, e como o cidadão precisa agir sob novas políticas”, comemora Leitão.

Ela afirma que, durante a apuração do livro, percebeu que, apesar de sucessivos planos fracassados para tentar recolocar a economia nos eixos o brasileiro mantinha crença de haveria uma solução para o aumento de preços. A constatação de Leitão é de a população aprendeu a “gostar de viver com inflação em níveis baixos”. Isso porque, proporcionalmente, o poder de compra do dinheiro é maior.

Apesar de lançar luz sobre a inflação, Leitão também destacou que a ideia era mostrar a turbulência pelo qual passou o país em 30 anos, com muitas trocas de ministros da fazenda, calotes e o consumidor, que em meio ao “tumulto” buscou fiscalizar e entender todo o processo de perto.

A palestra Cobertura Econômica: desafios no governo Dilma foi realizada das 14h às 15h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrantes: MiriamLeitão (Globo) miriamleitao@oglobo.com.br, Moderador: SergioLeo (Valor Econômico)

Sobre Victor Santos

Jornalista pela Unesp/Bauru.

Publicado em 2 de julho de 2011, em Boas Histórias, Boas Reportagens e marcado como , , , , , . Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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