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X Curso sobre Jornalismo e Conflitos Armados é lançado no 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Por Luana Copini (4º ano/Mackenzie)

Fotos: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista) e Luana Copini (4º ano/Mackenzie)

Sob o comando do jornalista João Paulo Charleaux (Últimas Instâncias) foi apresentado aos jornalistas e estudantes universitários, que participaram da palestra Medidas de proteção para jornalistas em cobertura de conflitos armados, neste último dia 30, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, o X Curso sobre Jornalismo e Conflitos Armados.

João Paulo Charleaux (Última Instância)

O curso não se restringe apenas aos estudantes paulistanos, mas sim aos universitários de todo o Brasil que querem ser jornalistas. Todos têm a oportunidade de participar do X Curso de Informação sobre Jornalismo em Conflitos Armados e outras Situações de Violência, que será ministrado de 20 de agosto a 29 de outubro, em São Paulo.

O curso é promovido pela CICV em parceria com a OBORÉ e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, e é realizado pelo Projeto Repórter do Futuro.

Seus principais objetivos consistem em conscientizar os participantes sobre temas do Direito Internacional Humanitário, além de abordar dispositivos legais necessários para analisar, interpretar, opinar e reportar as situações humanitárias resultantes de conflitos armados e situações de tensões internas.

Dentre os palestrantes estão militares, policiais, especialistas em direito internacional e jornalistas, todos apostando no aprendizado complementar sobre as normas internacionais aplicáveis em situações de conflito armado e outras situações de violência, além de situar o trabalho da imprensa nestes contextos.

Clique aqui para baixar o Cartaz Original

Ao todo, são 20 vagas oferecidas exclusivamente a estudantes universitários que tenham interesse nessa área do jornalismo. Os interessados em participar da seleção devem preencher uma ficha de pré-inscrição, disponível de 1º a 15 de agosto na página da OBORÉ: www.obore.com

A seleção será realizada no dia 20 de agosto, durante um encontro de confraternização com a presença do chefe da delegação regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Felipe Donoso.

Programação

20 de agosto – sábado – 9 horas
Encontro de confraternização e seleção de candidatos.
Apresentação de Felipe Donoso, chefe da delegação do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

3 de setembro – sábado – 8h30
Oficial do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx)

10 de setembro – sábado – 8h30
Coronel André Vianna, da reserva da Polícia Militar de São Paulo

17 de setembro – sábado – 8h30
Gabriel Valladares, assessor jurídico do CICV

24 de setembro – sábado – 8h30
Samy Adghirni, jornalista da Folha de S. Paulo e especialista em assuntos do Oriente Médio e política externa

29 de outubro – sábado – 9 horas
Avaliação do curso, entrega de certificados e Reembolsas

A palestra Medidas de proteção para jornalistas em cobertura de conflitos armados foi realizada das 9:00h às 12:30h de 30 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Os palestrantes foram: João Paulo Charleaux  (e-mail: jpcharleaux@gmail.com),  Andrei Netto  (e-mail: andrei.netto@grupoestado.com.br –download da apresentação) , Sandra Lefcovich(e-mail slefcovich@icrc.org – download da apresentação) e Rodney Pinder (e-mail: pinder.rodney@newssafety.org)


Direito Internacional Humanitário age em favor dos jornalistas em zonas de guerra

Por Maria Clara Lima (4º ano/UNESP)

Foto: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista)

Sandra Lefcovich, representante da CICV no Brasil.

“O mais seguro é não partir” diz Sandra Lefcovich, representante do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil, em palestra no 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

O jornalista que está, ou irá, a regiões de conflito precisa ter acesso a medidas de proteção. Conhecer seus direitos e deveres, além de saber como agir nestas situações de conflito armado, são atitudes essenciais até mesmo para a própria sobrevivência, comenta Lefcovich.

A palestrante lembra que ao se descolar para uma zona de conflito, o jornalista ou freelance deve se preparar para enfrentar os perigos de um conflito. Cursos de primeiros-socorros, equipamentos especiais e noções do Direito Internacional Humanitário podem assegurar que o repórter não seja ferido – ou até morto – em uma guerra. “Ninguém deve viajar sem seguro de vida, por exemplo”. Outras medidas são essenciais, como por exemplo, não contar com cartões em hipótese alguma; ter sempre alguns dólares na carteira; alugar telefone por satélite; comprar créditos suficientes para o uso intensivo de celular; ter o telefone de ONG, órgãos oficiais e fontes; e manter contato constante com os editores.

Como funciona o Direito Internacional Humanitário

O Direito Internacional Humanitário (DIH) é parte do Direito Internacional e dos Direitos Humanos.  A Cruz Vermelha Internacional é responsável pela manutenção do DIH e aplicação dos Direitos em zonas de conflito. Por ser uma organização filantrópica, o CICV procura restringir a participação majoritária das Nações para que o órgão não se sinta coagido a atender certas necessidades. Hoje em dia, em casos de conflitos, a Cruz Vermelha Internacional mantém o respaldo da comunidade internacional, enquanto a ONU perde a credibilidade com o tempo.

Para contar com o DIH, o jornalista deve estar fora da proteção dos militares. Sandra Lecovich lembra que o trabalho da CICV é para civis, e por isso, quem estiver cobrindo conflitos na condição de jornalista incorporado as forças armadas não será atendido pelo Comitê.  O DIH serve como interlocutor da paz, e estabelece o diálogo entre as partes beligerantes, no intuito de assistir as vítimas dos conflitos.

A assimilação cultural e a mudança do texto em relação a alguns assuntos é uma constante para o CICV, garantindo assim a interculturalidade. Para assegurar o dialogo, a Cruz Vermelha age também como Crescente Vermelho – nas Nações islâmicas. A mudança do emblema garante a identificação entre o Orgão e o povo.

A palestra Medidas de proteção para jornalistas em cobertura de conflitos armados foi realizada das 9:00h às 12:30h de 30 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Os palestrantes foram: João Paulo Charleaux  (e-mail: jpcharleaux@gmail.com),  Andrei Netto  (e-mail: andrei.netto@grupoestado.com.br –download da apresentação) , Sandra Lefcovich(e-mail slefcovich@icrc.org – download da apresentação) e Rodney Pinder (e-mail: pinder.rodney@newssafety.org)

Brasil ainda está longe de garantir o acesso à informação pública

Da Redação

Foto: Luana Copini (4º ano/ Mackenzie)

Mesmo com a eventual aprovação do projeto da lei nacional de Acesso à Informação Pública e com as diversas leis que aumentaram a transparência das operações governamentais do país, o Estado brasileiro ainda está longe de garantir aos veículos de comunicação o direito à informação pública.

É o que mostra os dados do Mapa de Acesso 2011, pesquisa da Abraji conduzida por Ivana Moreira, diretora da associação e chefe de redação da Band News FM de Belo Horizonte.

Ivana Moreira (BandNews FM/Abraji)

A pesquisa foi apresentada durante a palestra “Lei de Acesso a Informações Públicas no Brasil – Mapa do Acesso”. O pesquisador da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) Guilherme Canela e o jornalista Fernando Oliveira Paulino, da Universidade de Brasília, também participaram do debate, que fez parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji.

Realizado desde 2006, o Mapa de Acesso consiste em um trabalho de apuração em que jornalistas ligados à Abraji pedem certas informações públicas a órgãos dos três Poderes e, faz o levantamento de quantos são realmente transparentes.

Neste ano, o estudo tentou verificar o grau de transparência de Estados em relação às informações da segurança pública. Foram solicitadas três informações, divididas ano a ano e referentes ao período entre 2007 e 2010: o orçamento executado por unidade prisional,o número de detentos por unidade prisional e o gasto por detento.

Dos 27 governos consultados, apenas 14 responderam às questões, ainda que fossem incompletas. Os outros 13 não deram retorno. Entre aqueles que repassaram as informações, nota-se um aumento da transparência, sobretudo no Sudeste, diz Moreira. “Existe hoje nos governos do sudeste uma preocupação maior do que em estados onde o trabalho da mídia é menos intenso”.

Lei de Acesso

Outro ponto discutir o durante a palestra foi o projeto de lei que regulamentará o acesso à informação pública, que está tramitando no Senado Federal. Mas a provável aprovação do instrumento, diz Canela, não garante a transparência das instituições. “Se aprovar está sendo difícil, implantar já é outra batalha”.

O maior obstáculo para isso, segundo ele, é a resistência por parte dos servidores públicos. “Os funcionários pensam que estam ajudando o governo quando não repassam as informações”. Ele também deu exemplos de experiências mau sucedidas, como na África do Sul, em que a legislação é avançada, “mas não teve órgão independente para fiscalizar”.

A falta de um órgão competente também foi mencionada por Moreira. “Não que ela [a lei] não vá ser implantada aqui por causa disso, mas é um risco. Nos Estados Unidos, por exemplo, funcionou razoavelmente bem, mas teve falhas, reconhecidas pelo governo Obama”, diz.

A palestra “Lei de Acesso a Informações Públicas no Brasil – Mapa de Acesso 2011” foi realizada das 11h às 12h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br).

Palestrante(s): Guilherme Canela (UNESCO),  Fernando Oliveira Paulino (UnB/Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas) Ivana Moreira (BandNews FM/Abraji) Download das apresentações: Apresentação 01, Apresentação 02, Apresentação 03

“É preciso trocar informação”

Por Camila Moura

O que você, estudante de jornalismo ou foca, acharia se pudesse ter acesso ao making off das grandes reportagens, vencedoras dos principais prêmios de jornalismo do país? Todos os segredos e dificuldades seriam desvendados. Essa é a ideia de um projeto que nasceu há 5 anos, e foi retomado nos bastidores do 6º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji por Sergio Gomes (OBORÉ) e Angelina Nunes (editora assistente da editoria Rio do O Globo e coordenadora o grupo de Administração Pública).

 

A ideia principal é fazer com que o regulamento dos concursos que premiam reportagens tenham uma cláusula que obrigue os vencedores a descrever em detalhes todo o processo de realização, desde a origem da pauta, as dificuldades e fontes de pesquisa, até chegar ao resultado final. Assim, grandes profissionais estarão contribuindo para a formação do jovem jornalista, uma vez que esse material ficará disponível às universidades.
Registramos o encontro de Sérgio Gomes e Angelina Nunes. Assista ao vídeo e confira:

Violência agrária no Brasil é menos pautada por correspondentes, afirma jornalista

Por Taina Mansani (Cientista Social/ USP e jornalismo/ Cásper Líbero)

Foto: Vinicius Gorczeski (4º ano/Metodista)

Nos últimos anos, o tema da violência agrária no Brasil perdeu espaço no noticiário internacional. A redução dos casos de conflitos agrários e a desmobilização do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) são alguns dos motivos. A avaliação é da correspondente internacional no Brasil do jornal argentino “Clarín”, Eleonora Gosman.

Eleonora Gosman (Clarín)

“Vamos reconhecer que durante o período Lula a atividade do MST foi menor, seja porque estavam muito ligados ao PT, ou por outros motivos”, acrescenta. Outra dificuldade apontada pela jornalista é a distância entre as regiões do Brasil. “Por ser um país grande, para quase tudo é preciso avião”, afirmou.

A última notícia sobre o tema violência agrária noticiada por Gósman foi a morte da missionária Dorothy Stang (2005), decorrente de conflitos agrários contra fazendeiros. Desde então, ela tem feito coberturas mais relacionadas a temas econômicos.

Apesar de perder espaço no noticiário internacional, o problema persiste no Brasil. No último dia 24 de maio o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foi assassinado a tiros no Pará, por conta de conflitos contra a ação de madeireiros.

A palestra O Brasil visto de fora: o trabalho dos correspondentes foi realizada das 9h as 11h30 no dia 02 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). O palestrante foi a jornalista Eleonora Gosman (Clarín).

“Investigamos para informar, não para punir”

Por Camila Moura (2º ano/ FIAM)

Quando falamos sobre ética no jornalismo, um assunto recorrente é a utilização de gravadores, câmeras escondidas, e o uso de falsa identidade por parte do profissional. Eduardo Faustini, o repórter sem rosto do Fantástico, defende a utilização desses artifícios desde que o conteúdo exposto seja de interesse público.

“Esse país é roubado todo dia, o jornalismo investigativo no Brasil é um dos melhores do mundo porque nossa matéria prima é farta”.

Faustini revelou que a matéria sobre a segurança dos aeroportos que foi ao ar em janeiro deste ano, na qual ele desembarca nos principais aeroportos do país com uma AR15 na mala sem ser pego, surgiu depois que uma funcionária do aeroporto disse que ele não poderia embarcar com um cortador de unhas, visto que a lixa seria pontuda e ia contra as normas de segurança.

Palestra com Eduardo Faustini (TV Globo)

Essa matéria reforça a glamourização que o público faz em torno do uso das micro câmeras. “A micro câmera quebrou a barreira do padrão Globo de qualidade, pois a imagem é extremamente ruim e o áudio é absolutamente condenável. Um material muito pobre em qualidade técnica, mas muito rico em informação e emoção”, afirma Tyndaro Menezes, também jornalista da TV Globo e mediador.

A dificuldade é encontrar no mercado, equipamentos de qualidade, que deem segurança para trabalhar. “Se você tem uma câmera é como se não tivesse nenhuma, se você tem duas, uma delas poderá funcionar, e se tiver três, pode ter a sorte que duas funcionem bem”.

Para ambos os profissionais, as reportagens de televisão dependem extremamente de imagens, áudio e vídeo.

A palestra Investigação em TV: câmera escondida e outros métodos foi realizada das 9h às 11h30 de 2 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrantes: Eduardo Faustini (TV Globo)

Pauta: uma produção coletiva

Por Efraim Caetano (2º ano/Unicsul)

Godoy, Venéri e Beraba – Pautar e não ser pautado

Quem acorda pela manhã e lê o jornal ou liga o rádio e ouve uma notícia, não imagina o processo da produção da reportagem. Porém, em se tratar disso, os jornalistas Marcelo Godoy, Renata Venéri e Marcelo Beraba tiram de letra. “O trabalho que você vê no jornal no dia seguinte é um trabalho feito por dezenas de pessoas e, não por mini gênios que resolvem tudo sozinho”, afirma Godoy, chefe de reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”.

Beraba, diretor da sucursal no Rio de Janeiro do jornal “O Estado de S.Paulo” e diretor da Abraji, lembra que hoje não há mais o pauteiro como uma função específica. “A produção da pauta é uma produção coletiva e é um a dinâmica completamente diferente da época do pauteiro”, diz.

Para Venéri, chefe de produção da Rádio “BandNewsFM”, produzir notícia para rádio não há mais a formalidade da pauta, pois tudo é “muito dinâmico” e “é necessário que seja assim, senão fica amarrado e burocrático”. E vai além: “rádio é tudo muito rápido. Todo mundo produz notícia”, conclui.

Com uma plateia repleta de estudantes, Godoy e Venéri responderam sobre a chegada dos recém-formados em jornalismo na redação e foram enfáticos ao dizer que a nova geração é uma turma que tem muitas ideias e, o que falta é a técnica. “Não é todo mundo que chega pronto na redação, mas se aprende. Faz parte da sua função orientar”, diz Godoy.

Para a estudante de jornalismo Tamiris Gomes, 20, o conteúdo abordado na palestra é completamente diferente daquele adquirido na universidade e, ressalta que participar do congresso é um diferencial no aprendizado dos estudantes de comunicação.

A palestra Pauta e pauteiro: entre a agenda e a ousadia foi realizada das 11h às 12h30h de 02 de julho de 2011, na sede da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). A mesa foi moderada pelo jornalista Marcelo Beraba (e-mail marcelo.beraba@grupoestado.com.br). Os palestrantes foram Marcelo Godoy (e-mail marcelo.godoy@grupoestado.com.br) e Renata Venéri (e-mail rveneri@band.com.br).

O desafio de ensinar o jornalismo investigativo

Por Camila Moura (2º ano/FIAM)

Foto: Lina Ibañez

A investigação é primordial em qualquer matéria jornalística. Ao trazer ao conhecimento da sociedade um fato de interesse público, o jornalista pode desde apressar um processo que demoraria anos para ser concluído até estimular a reformulação de leis.

Em sua palestra no 6º Congresso da Abraji, o professor Solano Nascimento da Universidade de Brasília apresentou casos em que o jornalismo investigativo foi fundamental por causa de reportagens que causaram grande impacto na sociedade, além de alertar e impedir a incidência de novos abusos e situações problemáticas.

“É difícil o jornalismo investigativo mudar governos ou mudar toda uma estrutura. Agora, fazer reformas é possível e, para determinados grupos de pessoas, elas são muito importantes”, disse, referindo-se a um episódio ocorrido em 2006 na região de Imperatriz (MA). Na ocasião, 16 pessoas morreram de forma misteriosa, agricultores entre 14 a 45 anos de idade. Posteriormente descobriu-se que a causa das mortes foi um fungo no arroz, colhido e consumido pelos trabalhadores.

Assim como os estudantes, os profissionais que ensinam o jornalismo investigativo também precisam se atualizar constantemente para poder proporcionar aos alunos encontros e trocas de experiências com jornalistas, no ambiente educacional.

A falta de critérios e atenção ao apurar uma notícia pode levar um veículo a cometer equívocos e transmitir informações que eventualmente não correspondem à realidade. Em suas aulas, o professor Solano aborda temas que treinam a perspicácia do universitário.  “Ele é provocado a olhar toda notícia com desconfiança, descobrir o que está errado”, explica.

Edson Flosi, professor da Faculdade Cásper Libero, lembra com pesar a ausência da disciplina de jornalismo investigativo, ou reportagem policial, na grade curricular das universidades brasileiras. Para ele, a reportagem policial tem diferenças importantes em relação às reportagens que abordam esportes ou saúde, por exemplo.

Luciana Kraemer, Solano Nascimento e Edson Flosi

“O repórter policial foge da versão oficial. Ele enfrenta a polícia, promotores, delegados, e ainda tem que ter outras qualidades como malandragem, esperteza, frieza, raciocínio e, principalmente, a desconfiança. Das especialidades do jornalismo, a mais difícil de ensinar é investigativa, porque depende muito mais do interesse do aluno”, conclui.

A palestra Jornalismo investigativo nas universidades foi realizada das 16h às 17h30 de 1º de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Palestrantes: Solano Nascimento (UnB), Edson Flosi (Cásper Líbero) Moderador: Luciana Kraemer (Unisinos/Abraji)

Fazer jornalismo investigativo é retratar por completo a realidade

Por Michelle Magri (4º ano/Uninove)

Foto: Lina Ibañez

“O jornalismo investigativo consolidou-se no mundo todo como sinônimo de bom jornalismo, de reportagens profundas, alentadas, que procurem esgotar um determinado assunto”. Foi com o pensamento do presidente da Abraji, Fernando Rodrigues, que o repórter especial do Diário de Pernambuco, Vandeck Santiago, e o vice-presidente da Rede Paranaense de Comunicação, Guilherme Cunha Pereira, definiram jornalismo investigativo.

Para Santiago, que iniciou a carreira em 1985, todo veículo deveria direcionar ao menos três jornalistas da equipe para a produção de matérias especiais. Segundo ele, o primeiro passo para um jornal deixar de ser regional e tornar-se nacional é investir em pesquisas aprofundadas. “Toda matéria deve começar com uma boa pesquisa. Hoje o jornalista não tem mais tempo para ir a uma biblioteca, pesquisar na internet se há alguma tese ou alguma dissertação sobre o assunto, mas isso é fundamental”.

Vandeck Santiago discute o diferencial do jornalismo investigativo

Santiago afirma que a grande preocupação dos jornalistas, deve ser transformar um fato corriqueiro em documento da realidade. “As notícias imediatas são apenas fatos narrados. Aconteceu algo, você apurou e registrou, isso é apenas de um fragmento da realidade. Agora, à medida em que você pesquisa, traz fatos novos e os transforma em documento da realidade, você os tornam investigativos, e aí é retratada a realidade completa”.

Para Pereira, driblar a era do imediatismo e investir em um jornalismo de qualidade é extremamente vantajoso do ponto de vista institucional. “O que garante a solidez do veículo é a personalidade e a perenidade dele. Para se ter uma relação duradoura com o leitor ou com o telespectador, o veículo deve ter uma identidade bem constituída”.

Segundo o vice-presidente da Rede Paraense, ao investir em jornalismo investigativo é necessário saber que o lucro não é imediato: “o resultado econômico de um ano, por exemplo, não garante o sucesso posterior do jornal”. Para ele, a empresa tem de ter um resultado excepcional em um certo ano mas se isso não se traduzir em aumento da circulação, é muito grande o risco do resultado seguinte ser bem diferente.

Referindo-se a busca de audiência imediata, o palestrante ressalta que é preciso ter cautela, principalmente quando se comemora os ganhos financeiros. “Quem busca audiência a qualquer custo pode até obter resultados importantes a curto prazo, mas pode comprometer a sobrevivência do veículo”.

O jornalista Gustavo Mota,da Inter TV, filiada da Rede Globo em Campos (RJ), presente na plateia, conta que a palestra foi esclarecedora: “Os palestrantes esclareceram muitos pontos para mim, principalmente essa questão da identidade do veículo. Não devemos trabalhar apenas para cumprir nossa carga horária, temos que ajudar a criar a identidade do veículo em que trabalhamos. Vou tentar passar isso para o pessoal lá no Rio”.

A palestra Por que investimos em jornalismo investigativo foi realizada das 16h às 17:30h de 01 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). A mesa foi mediada pelo jornalista Mauri König. Os palestrantes foram: Vandeck Santiago (e-mail vandeck@uol.com.br) e Guilherme Cunha Pereira (e-mail guilherme@grpcom.com)

Cobertura Jornalística de Situações de Emergência

Por Géssica Brandino (jornalista)

Tragédias de grandes proporções despertam o interesse público para além das fronteiras de um país. Enquanto a mídia local busca a prestação de serviço, os enviados especiais chegam à procura de histórias universais. Em ambos os lados, como ficou claro na palestra Jornalismo de emergência: a cobertura dos terremotos no Chile e no Japão é preciso ter cautela e rigor na apuração, para não gerar pânico ou preconceitos.

Durante o terremoto do Chile, em fevereiro de 2010, diante da falta de energia e internet, a rádio “Bío-bío” se tornou fundamental para a comunicação da população. As oito equipes independentes, em Santiago, Valparaiso, Concepción, Los Ángeles, Temuco, Valdivia, Osorno, Puerto Montt, permitiram ao veículo atender às informações locais. Diante da tragédia, a decisão foi priorizar conteúdos que ajudassem as autoridades a chegarem até os pontos críticos. No processo, houve colaboração dos próprios ouvintes, que enviavam dados relevantes e de utilidade pública. O comprometimento foi tanto, que durante dois dias a rádio deixou de lado os anúncios publicitários.

“Lembro de um grupo de pessoas que passava a madrugada inteira sentado em frente à casa destruída ao redor de um rádio, ligado na bateria do carro, ouvindo a rádio Bío-bío, porque era prestação de serviço o tempo todo”, relatou Daniel Scola, da Rádio Gaúcha, que passou nove dias cobrindo os terremotos do Chile e dez na cobertura no Japão, no início do ano.

Para Nibaldo Mosciatti, âncora da rádio “Bío-bío”, a cobertura de situações de emergência deixa evidente o grau de credibilidade e a capacidade de isenção de um veículo de comunicação: “Não há nenhum meio que reaja bem nessa situação se não tiver feito um trabalho prévio e de boa qualidade, o que significa estabelecer contatos com a população, vínculos de confiança e distâncias com os poderes de todo tipo”.

O jornalista também recomenda conter o lado emocional, que pode provocar mais tragédias. A informação deve ser verificada, precisa e muito relevante. Além disso, é preciso deixar de lado os preconceitos e tomar distância dos fatos para garantir a isenção da cobertura.

Já para os enviados especiais, surgem dificuldades como o acesso ao local da tragédia. No Chile, a maior dificuldade de Scola foi o que chamou de “jejum de comunicação”. Para transmitir as matérias, ele ligava para a rádio no Brasil e ditava o conteúdo. Já no Japão, a dificuldade foi o idioma, que dificultava o contato com a população. Na hora de definir a pauta, buscava priorizar depoimentos que mostrassem o lado humano da situação. “É preciso apostar na história da pessoa que vai retratar, porque essa será a melhor fotografia do que acontecendo”, defende.

Mônica Gonzales, diretora do Centro de Investigación e Información Periodística (CIPER), presente na palestra, lembrou que em um trabalho de qualidade deve ser pautado pelo interesse público e deixar de lado evitar o sensacionalismo na cobertura: “O correspondentes que fazem bem seu trabalho nunca vão ficar só com o sangue, mas com as histórias que nos deixam ensinamentos, porque o jornalismo nunca deixará de ser um grande serviço”.

A palestra Jornalismo de emergência: a cobertura dos terremotos no Chile e no Japão foi realizada das 16h às 18h de 01 de julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). Os palestrantes foram: Nibaldo Mosciatti nibaldo@laradio.cl  e Daniel Scola daniel.scola@rdgaucha.com.br . Moderador: João Paulo Charleaux (Ultima Instância).