Jornalistas dos principais jornais do país narram experiências de cobertura na Líbia

Por Juliana Conte (jornalista)

Vida de repórter não costuma ser fácil. Daqueles que vão cobrir diretamente do front então… Nem se fala.

Andrei Netto é correspondente do “Estado de S.Paulo”  e Samy Adghirni da “Folha de S. Paulo”. Ambos passaram momentos bastante delicados durante a cobertura internacional que realizaram sobre os conflitos no Oriente Médio, principalmente na Líbia, país em que Netto ficou preso e totalmente incomunicável durante oito dias.

“Uma das partes mais complicadas era falar com a mulher do Andrei sobre a situação dele. Quer dizer, não havia o que falar, mas eu precisava mostrar para ela de alguma maneira que a situação estava sob controle…O que teoricamente não estava”, contou Samy, que deu apoio a esposa de Andrei, no período em que ele ficou preso.

O correspondente do Estadão resolveu fazer um trajeto que não estava sendo trilhado pela maior parte dos repórteres que foram para a Líbia. A estratégia, traçada com o editor do jornal, era dar maior visibilidade ao lado oeste do país que estava totalmente sem cobertura.

“A nossa intenção era alcançar Trípoli rapidamente, pois pensávamos que as fronteiras logo iriam cair. Passamos mais de 36 horas para conseguir entrar. Entrei com o Ghaith Abdul-Ahad, jornalista iraquiano do The Guardian. Ele foi muito importante, já que falava árabe”.

Após serem liberados partiram para a cidade de Zabrata (pró Kadafi) e lá caíram em uma emboscada e foram sequestrados.

A comunidade internacional, na época, não tinha noção do que acontecia com os jornalistas presos naquele país, pois Andrei e Ghaith foram um dos primeiros a serem presos.

Ele conta que no dia que foi solto dormiu na casa do embaixador brasileiro e quando chegou, a televisão estava ligada no canal da Al Jazeera. Quando viu a notícia sobre a sua libertação, se deu conta da dimensão que o caso tinha tomado:

“Só ali, quando vi minha imagem estampada na televisão, percebi a mobilização dos órgãos internacionais (incluindo a Abraji) para a nossa soltura. Sou imensamente grato”.

Samy que é descendente de marroquinos escreveu inúmeras matérias para o jornal “Folha de S.Paulo”. Ele não chegou a ficar preso, no entanto, diz que passou por momentos em que teve que reunir forças para não chorar.

“ Ver corpos de crianças carbonizadas, muito sofrimento, gente desaparecida”.

Ele comenta ainda que durante a cobertura, no calor dos acontecimentos, o jornalista tende a se blindar contra esses fatos, perdendo até um pouco da sensibilidade. O estresse acaba aparecendo depois. Samy disse que tomou consciência do sofrimento das pessoas, do risco que passou, quando retornou ao Brasil. Levou alguns dias para conseguir dormir e ficar em paz com a sua consciência.

A palestra  Conflitos no mundo árabe – notícias do front foi realizada das 16h às 17h30 de 1º julho de 2011, na sede da universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, como parte do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (www.abraji.org.br). O palestrante foi

Publicado em 1 de julho de 2011, em Boas Histórias, Boas Reportagens, Fazer jornalístico, Jornalismo Internacional e marcado como , , , . Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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